sexta-feira, 19 de junho de 2009

Morreu um Verdadeiro Liberal

Ralf Dahrendorf - A morte de um grande liberal que não gostava das certezas.
«Será que só existe um modo de governo? Será que, racionalmente, por dedução e criterioso tratamento da informação, podemos chegar à verdade? Será que os mais inteligentes, os mais ilustrados, os mais generosos, os que sentem que descobriram o melhor caminho para a política e a economia, têm o direito natural de guiar os menos ilustrados, os menos dotados?
Ralf Dahrendorf, que durante boa parte da sua vida teve actividade política - entrou para o SPD alemão aos 18 anos, juntou-se depois aos liberais e chegou a ser secretário de Estado, foi comissário europeu, passou pelo partido liberal do Reino Unido, acabou a vida como membro da Câmara Alta britânica, na qualidade de Lorde, ele que nascera em Hamburgo -, amava de tal forma a liberdade que nunca se sentia verdadeiramente à vontade entre a maioria.(...)
Discípulo de Karl Popper, colega em Oxford de Isaiah Berlin, não surpreende que, além de cultivar a liberdade e o pluralismo, desse mais importância a limitar os poderes dos governos do que à necessidade de lhes garantir "força" para realizarem reformas, fossem elas quais fossem. Apreciava mais o equilíbrio do que a vontade "iluminada", mais depressa se preocupava com a mais mínima interferência dos Estados no livre-arbítrio dos cidadãos do que se juntava a campanhas desencadeadas em nome da segurança.Há quase 12 anos, na última das várias entrevistas que deu ao PÚBLICO, este homem que crescera sob o peso do nazismo e, depois, do comunismo, este cidadãos de dois grandes países europeus e da Europa, fino observador do seu século e crítico atento da actualidade, dizia sabiamente que havia "diferentes capitalismos", "cem modelos diferentes", pelo que seria sempre errado tomar apenas um como referência.(...) Este internacionalista que era europeísta mas também eurocéptico, que se afirmava ao mesmo tempo liberal e social, que por fim, parecendo de novo contrariar as referências anteriores, se definia como um radical, sabia no fundo como Churchill que a democracia era o pior de todos os regimes à excepção dos restantes, e que, como escreveu agora Zakaria, o capitalismo também é a pior máquina de gerar progresso à excepção de todas as outras. Porquê? Porque estes sistemas imperfeitos incorporam a tentativa e o erro e permitem que o que parece certo hoje seja errado amanhã, e vice-versa, obrigando à procura constante de olhar a realidade em buscas dos sinais que, na nossa condição de homens imperfeitos mas abertos e não sectários, nos permitam procurar os melhores caminhos em cada momento. Com liberdade e responsabilidade. E ao mesmo tempo sem recear ser radical na defesa do que pensamos serem as melhores opções e os melhores argumentos.Foi isso que Ralf Dahrendorf, em tantos palcos diferentes, fez durante toda a vida» (in publico.pt).

Lembram-se de uma das frases preferida do Gualberto do Rosário? "Dinheiro cria dinheiro!"
Ralf Dahrendorf já o tinha dito em 1989: "o dinheiro é gerado pelo dinheiro e não pela criação de riqueza duradoira!"
Foi um dos mais eminentes sociólogos do século xx.Era um liberal,embora não desse grande importância a rótulos.Foi um dos primeiros a avisar para os riscos da "economia de casino" que acaba de explodir diante dos nossos olhos.Foi na Câmara dos Lordes que liderou a célebre "Comissão Dahrendoorf" sobre a "criação de riqueza e coesão social numa sociedade livre",que viria a ser uma das fontes de inspiração do New Labour.A dupla experiência do totalitarismo- nazi e comunista-,na Alemanha,país onde nasceu e cresceu,e da resistência contra eles fundaram o compromisso de Ralf Dahrendorf com a causa da liberdade e preveniram-no contra as seduções ideológicas.Foi um europeísta convicto mas crítico- um "europeíta eurocéptico".Numa das suas obras clássicas,Class and Class Conflit in Industrial Societies (1959),desenvolve uma das suas ideias fundamentais sobre as sociedades democráticas."O monismo totalitária baseia-se na ideia de que o conflito pode e deve ser eliminado (...) Essa ideia é tão perigosa quanto errônea.O pluralismo das sociedades livres baseia-se no reconhecimento e na aceitação do conflito".Disse uma vez que era um "Kantiano,ou se preferem popperiano [Karl Popper,de quem foi discípulo] no sentido em que,para mim,um dos aspectos fundamentais da vida humana é que o homem não pode responder a todas as perguntas.Vivemos numa condição fundamental de incerteza e isso deriva do facto de nenhum homem ser Deus".Nunca deu grande importância a rótulos.No prefácio a obra Ensaios Sobre a Liberdade escreve: "Escolhi a palavra liberalismo para descrever uma possível agenda para o futuro,mas não dou muito valor a terminologia.Ela tem a ver com o reforço das oportunidades de vida dos indivíduos".Reforço das oportunidades é um objectivo essencial para qualquer liberal.Foi e é um dos meus sociólogos predilectos.A par de Raymond Aron e Anthony Giddens.Afinal,sou um liberal.Um liberal de esquerda,como aqueles 3 sociólogos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Pois, pois, és um liberal de esquerda. O proprio Dahrendorf, era também um liberal envergonhado, quer dizer de esquerda. Ele nunca se desmarrou da social-democracia. Por isso é que dizia ser um liberal social, trabalhou para o New Labour, enfim... as indefiniçoes de liberais de esquerda como tu Edy.

Nao, Edu, o Dahrendorf nao era um lberal no sentido classico. Era um europeu com a mania do social...E sabes que mais? Conheci-o também... mas nao digas nada ao Redy, que ainda o gajo vai apanhar um ataque cardiaco.

Se eu desfilar os nomes com quem falei em conferência internacionais de filosofia, ainda meio mundo em CV me vai matar!!!

Al Binda

Edy disse...

Pois Al Binda,
tanto a esquerda como a direita,tanto os socialistas como os liberais,tanto os libertários como os conservadores,todos eles,estão cheios de indefinições e contradições...

Anónimo disse...

Os verdadeiros liberais como eu nao! Ja reparaste que sou sempre consequente e nao mudo de linha nem um milimetro?!

E' que conheço os meus classicos e sou responsavel: nunca gastar um tostao que nao é meu sem prestar contas; gastas, pagas! Nao se vive acima das suas possibilidades! Respeite-se o outro como individuo e como igual! Respeite-se as regras!

E' facil, o liberalismo, nao é Edy?!

Al Binda

Edy disse...

Al Binda,
quando falo nas inconsistências,quero dizer no plano intelectual ou filosófico...a esquerda é liberal nos costumes e conservador na economia...a direita é liberal na economia e conservador nos costumes..se tu és assim tão puro,é porque és um dos poucos...

Anónimo disse...

Edy nao sou "puro" coisissima nenhuma. Nao sou nenhum santo e essa linguagem higiénica de pureza é muito perigosa.

Sou apenas um homem exigente comigo mesmo.

Enfim, ja te tinha dito nos primordios do nosso debate que liberal e conservador sao antinómicos. Um liberal é um liberal, um homem livre, logo nao pode ser conservador.

Mas eu sei o sentido do emprego que fazes da palavra. Mas é incorrecto.

Um conservador é um gajo estagnado, parado, enquanto um liberal é um gajo do movimento, da liberdade...

Quanto à tua insistência de dizer que um gajo de esquerda pode ser liberal, eu ja te disse que nao acredito nisso. Foi por isso mesmo que o proprio Keynes que inspirou essa esquerda "liberal" nunca conseguiu ser ele proprio um liberal.

Sao sim sociais democratas...

Ja te dei a minha definiçao do liberal noutras ocasioes. E' a melhor. Eu sei que pode ser vista como uma bazofaria de crioulo, mas é a melhor definiçao do liberalismo, mesmo daquelas dos ditos classicos SMith e companhia. Eles tiveram sempre um momento de fraqueza, mesmo o Smith na sua teoria de filosofia moral quando fala no "social"...

O mundo nunca teve verdadeiros liberais. Foram sempre envergonhados ou extremistas.

Al Binda

Anónimo disse...

Se liberalismo é sinónimo de progresso, em oposição ao conservadorismo, então a esquerda é,genéticamente, mais liberal que a direita.E o que se pode chamar de esquerda conservadora será mais uma esquerda radical, isto é anti-liberal, a tender para o totalitarismo.A esquerda hoje dita de esquerda moderada é a verdadeira esquerda,liberal tout court, sem razões para ser " envergonhada"