quarta-feira, 15 de julho de 2009

Carlota Pérez: a economista que tem a solução para a crise

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Depois da crise, qual será o papel do Estado?
É como ter um doente em estado crítico. A prioridade é salvá-lo. Depois de salvo, a preocupação passa por evitar que ocorra o mesmo. Há muitas formas de fazer isso. Primeiro, mudar as regras de funcionamento do sistema financeiro, dar-lhe mais transparência. O casino financeiro operava num registo de total opacidade. Madoff é só a ponta de um iceberg de comportamentos duvidosos na sombra. Segundo, uma regulação global. Não se pode controlar internamente um sistema que funciona sem fronteiras. É também preciso que o sistema financeiro se volte para a economia real, apoiando a criação de riqueza na produção. Para isso é preciso mudar os incentivos e até a fiscalidade. Os prémios e incentivos ainda passam pela tomada de risco. Esse foi o caminho do colapso. Criar emprego, investir em formação, exige esforço e não faz milionários em pouco tempo.
Esta mudança é fulcral para se chegar à nova época dourada?
Muito. A questão ambiental é outro grande espaço tecnológico possível e que tem que ser criado. Ele existe, mas o mercado não é suficientemente grande para ser incentivador. A globalização tem que ver com a possibilidade de ampliar mercados e a produção, e isto virá reduzir os problemas de terrorismo, da imigração, aproximando os continentes que ficaram atrás: África e América Latina.
Mas as tecnológicas já investiram nessas geografias
O investimento é bom, mas não pode ser feito à custa de desemprego na Europa. A solução passa pela especialização regional. Para os países desenvolvidos há várias áreas: entretenimento, educação, indústrias criativas, ambientais, biotecnologia, nanotecnologia, etc, o que supõe investimentos em massa e emprego por muitos anos. Já a produção, que requer muita mão-de-obra, pode ser oportunidade nos países densamente povoados como os asiátios, enquanto a indústria de processamento de materiais, química ou agro-industrial poderia sediar-se na América Latina e África que têm muitos recursos naturais. A globalização plena da produção pode elevar o nível de vida do terceiro mundo como o Welfare State fez com o primeiro mundo.
Esta crise terminará a curto ou longo-prazo? Uns falam que será em V, outros em W?
Dizem que vai ser um V, ou um W, porque consideram que é uma crise comum que se ataca com políticas típicas. Se apenas estivermos dedicados a curar o sistema financeiro não vamos ter um W, mas sim sete dromedários seguidos. Subida, queda, subida, queda e cada vez pior, até que se perceba que as mudanças necessárias não são só financeiras. São muito mais abrangentes: um Bretton Woods mais o Welfare State. Não podemos ter uma economia próspera sem que as decisões de investimento passem para o capital produtivo. Uma empresa que hoje queira investir a três ou quatro anos não consegue. Porquê? Porque a bolsa exige-lhe que a cada três meses tenha mais lucros.
O curto-prazo é autodestrutivo?
O carácter de curto-prazo do capital financeiro prejudica economia. É preciso pensar a longo-prazo em projectos, infra-estruturas, mudanças relacionadas com ambiente e sociedade, e que não serão feitas pelas finanças onde tudo é lucro fácil.
fonte: Ionline (entrevista a Carlota Perez)

2 comentários:

CEBE disse...

Muito boa a entrevista Edy, bela pontaria.

Obrigado por me dares a conhecer esta senhora!

Abraço, JP

Edy disse...

De nada JP!
A senhora é,no minimo,uma economista a seguir e ler..
Abraço