Depois da crise, qual será o papel do Estado?
É como ter um doente em estado crítico. A prioridade é salvá-lo. Depois de salvo, a preocupação passa por evitar que ocorra o mesmo. Há muitas formas de fazer isso. Primeiro, mudar as regras de funcionamento do sistema financeiro, dar-lhe mais transparência. O casino financeiro operava num registo de total opacidade. Madoff é só a ponta de um iceberg de comportamentos duvidosos na sombra. Segundo, uma regulação global. Não se pode controlar internamente um sistema que funciona sem fronteiras. É também preciso que o sistema financeiro se volte para a economia real, apoiando a criação de riqueza na produção. Para isso é preciso mudar os incentivos e até a fiscalidade. Os prémios e incentivos ainda passam pela tomada de risco. Esse foi o caminho do colapso. Criar emprego, investir em formação, exige esforço e não faz milionários em pouco tempo.
É como ter um doente em estado crítico. A prioridade é salvá-lo. Depois de salvo, a preocupação passa por evitar que ocorra o mesmo. Há muitas formas de fazer isso. Primeiro, mudar as regras de funcionamento do sistema financeiro, dar-lhe mais transparência. O casino financeiro operava num registo de total opacidade. Madoff é só a ponta de um iceberg de comportamentos duvidosos na sombra. Segundo, uma regulação global. Não se pode controlar internamente um sistema que funciona sem fronteiras. É também preciso que o sistema financeiro se volte para a economia real, apoiando a criação de riqueza na produção. Para isso é preciso mudar os incentivos e até a fiscalidade. Os prémios e incentivos ainda passam pela tomada de risco. Esse foi o caminho do colapso. Criar emprego, investir em formação, exige esforço e não faz milionários em pouco tempo.
Mudar as mentalidades...
Não. Tem que se forçar a mudança. Se criar um imposto alto para quem vende uma casa, acções ou instrumentos financeiros logo depois de os comprar, e impostos decrescentes para quem só vende passados cinco anos, então há um desincentivo ao curto-prazo. Igual se der um benefício fiscal ao investimento criador de emprego. Estes impostos mudam o perfil do mercado.
Não. Tem que se forçar a mudança. Se criar um imposto alto para quem vende uma casa, acções ou instrumentos financeiros logo depois de os comprar, e impostos decrescentes para quem só vende passados cinco anos, então há um desincentivo ao curto-prazo. Igual se der um benefício fiscal ao investimento criador de emprego. Estes impostos mudam o perfil do mercado.
Esta mudança é fulcral para se chegar à nova época dourada?
Muito. A questão ambiental é outro grande espaço tecnológico possível e que tem que ser criado. Ele existe, mas o mercado não é suficientemente grande para ser incentivador. A globalização tem que ver com a possibilidade de ampliar mercados e a produção, e isto virá reduzir os problemas de terrorismo, da imigração, aproximando os continentes que ficaram atrás: África e América Latina.
Mas as tecnológicas já investiram nessas geografias
O investimento é bom, mas não pode ser feito à custa de desemprego na Europa. A solução passa pela especialização regional. Para os países desenvolvidos há várias áreas: entretenimento, educação, indústrias criativas, ambientais, biotecnologia, nanotecnologia, etc, o que supõe investimentos em massa e emprego por muitos anos. Já a produção, que requer muita mão-de-obra, pode ser oportunidade nos países densamente povoados como os asiátios, enquanto a indústria de processamento de materiais, química ou agro-industrial poderia sediar-se na América Latina e África que têm muitos recursos naturais. A globalização plena da produção pode elevar o nível de vida do terceiro mundo como o Welfare State fez com o primeiro mundo.
Muito. A questão ambiental é outro grande espaço tecnológico possível e que tem que ser criado. Ele existe, mas o mercado não é suficientemente grande para ser incentivador. A globalização tem que ver com a possibilidade de ampliar mercados e a produção, e isto virá reduzir os problemas de terrorismo, da imigração, aproximando os continentes que ficaram atrás: África e América Latina.
Mas as tecnológicas já investiram nessas geografias
O investimento é bom, mas não pode ser feito à custa de desemprego na Europa. A solução passa pela especialização regional. Para os países desenvolvidos há várias áreas: entretenimento, educação, indústrias criativas, ambientais, biotecnologia, nanotecnologia, etc, o que supõe investimentos em massa e emprego por muitos anos. Já a produção, que requer muita mão-de-obra, pode ser oportunidade nos países densamente povoados como os asiátios, enquanto a indústria de processamento de materiais, química ou agro-industrial poderia sediar-se na América Latina e África que têm muitos recursos naturais. A globalização plena da produção pode elevar o nível de vida do terceiro mundo como o Welfare State fez com o primeiro mundo.
É dar prioridade à procura de mais equilíbrio...
O capitalismo está sempre a evoluir. É inegável que estamos melhor do que há 100 anos, embora ainda haja pessoas a morrer de fome. O sistema funciona assim, avança, retrocede e volta a avançar. As tecnologias estão aí e depende das sociedades até onde chegarão e como serão usadas, havendo sempre o risco de não aproveitarmos todo o seu potencial porque muitos mecanismos do capitalismo são motivados por ambição pessoal.
O capitalismo está sempre a evoluir. É inegável que estamos melhor do que há 100 anos, embora ainda haja pessoas a morrer de fome. O sistema funciona assim, avança, retrocede e volta a avançar. As tecnologias estão aí e depende das sociedades até onde chegarão e como serão usadas, havendo sempre o risco de não aproveitarmos todo o seu potencial porque muitos mecanismos do capitalismo são motivados por ambição pessoal.
Esta crise terminará a curto ou longo-prazo? Uns falam que será em V, outros em W?
Dizem que vai ser um V, ou um W, porque consideram que é uma crise comum que se ataca com políticas típicas. Se apenas estivermos dedicados a curar o sistema financeiro não vamos ter um W, mas sim sete dromedários seguidos. Subida, queda, subida, queda e cada vez pior, até que se perceba que as mudanças necessárias não são só financeiras. São muito mais abrangentes: um Bretton Woods mais o Welfare State. Não podemos ter uma economia próspera sem que as decisões de investimento passem para o capital produtivo. Uma empresa que hoje queira investir a três ou quatro anos não consegue. Porquê? Porque a bolsa exige-lhe que a cada três meses tenha mais lucros.
O curto-prazo é autodestrutivo?
O carácter de curto-prazo do capital financeiro prejudica economia. É preciso pensar a longo-prazo em projectos, infra-estruturas, mudanças relacionadas com ambiente e sociedade, e que não serão feitas pelas finanças onde tudo é lucro fácil.
Dizem que vai ser um V, ou um W, porque consideram que é uma crise comum que se ataca com políticas típicas. Se apenas estivermos dedicados a curar o sistema financeiro não vamos ter um W, mas sim sete dromedários seguidos. Subida, queda, subida, queda e cada vez pior, até que se perceba que as mudanças necessárias não são só financeiras. São muito mais abrangentes: um Bretton Woods mais o Welfare State. Não podemos ter uma economia próspera sem que as decisões de investimento passem para o capital produtivo. Uma empresa que hoje queira investir a três ou quatro anos não consegue. Porquê? Porque a bolsa exige-lhe que a cada três meses tenha mais lucros.
O curto-prazo é autodestrutivo?
O carácter de curto-prazo do capital financeiro prejudica economia. É preciso pensar a longo-prazo em projectos, infra-estruturas, mudanças relacionadas com ambiente e sociedade, e que não serão feitas pelas finanças onde tudo é lucro fácil.
E o mundo financeiro vai deixar que ocorra tal mudança?
Pois? As grandes economias precisam desta mudança, estão amarradas ao sistema financeiro que precisam de controlar. Não sei se será possível mudar isto, daí não estimar quanto tempo vai durar esta crise. Um crescimento harmónico da economia, positivo e não polarizante, não se atingirá a menos que capital financeiro deixe de controlar tudo. Controla a economia, o mundo político..."
Pois? As grandes economias precisam desta mudança, estão amarradas ao sistema financeiro que precisam de controlar. Não sei se será possível mudar isto, daí não estimar quanto tempo vai durar esta crise. Um crescimento harmónico da economia, positivo e não polarizante, não se atingirá a menos que capital financeiro deixe de controlar tudo. Controla a economia, o mundo político..."
fonte: Ionline (entrevista a Carlota Perez)
2 comentários:
Muito boa a entrevista Edy, bela pontaria.
Obrigado por me dares a conhecer esta senhora!
Abraço, JP
De nada JP!
A senhora é,no minimo,uma economista a seguir e ler..
Abraço
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