Isto porque a terra, que é extremamente fértil em algumas regiões, é barata no continente empobrecido. O fundo de terras de Payne paga de US$ 350 a US$ 500 (R$ 650 a R$ 930) por hectare na Zâmbia, cerca de um décimo do preço das terras na Argentina ou nos Estados Unidos. Para um pequeno fazendeiro na África, a produção média por hectare permanece inalterada há 40 anos. Com um pouco de fertilizantes e uma irrigação melhor, a produção poderia quadruplicar - assim como os lucros. [...]
Os alimentos são o novo petróleo. As reservas mundiais de grãos caíram para uma baixa histórica no começo de 2008, e a subsequente alta nos preços marcaram um ponto de virada, da mesma forma que a crise do petróleo fez nos anos 70. A falta de pão provocou motins em todo o mundo, e 25 países, incluindo alguns dos maiores exportadores de grãos, impuseram restrições à exportação de alimentos.Então veio a segunda crise de 2008, a crise econômica. Dois medos - o medo da fome e do medo da incerteza - convergiram, desencadeando o que alguns já chamam de segunda geração do colonialismo.
A diferença em relação a esse novo colonialismo é que os países estão permitindo prontamente serem conquistados. O primeiro-ministro da Etiópia disse que seu governo está "ansioso" para oferecer acesso a centenas de milhares de hectares de terras agrícolas. O ministro da agricultura da Turquia anunciou: "Escolham e peguem o que quiserem". Em meio à guerra contra o Taleban, o governo paquistanês investiu em sua autopromoção em Dubai, buscando seduzir os xeiques com redução de impostos e isenção de leis trabalhistas.
Todos esses esforços têm duas esperanças em comum. Uma é a esperança de os países pobres atingirem o desenvolvimento e a modernização em seus precários setores agrícolas. A outra é a esperança do mundo de que os investidores estrangeiros na África e na Ásia sejam capazes de produzir alimentos suficientes para um planeja que logo será povoado por 9,1 bilhões de pessoas; que eles tragam consigo todas as coisas que faltam aos países pobres, incluindo tecnologia, capital e conhecimento, sementes modernas e fertilizantes; e que esses investidores sejam capazes não só de dobrar as safras mas, em muitas partes da África, multiplicá-las por dez.[...]
Se os investidores tiverem sucesso, eles poderiam alcançar o que as agências de desenvolvimento não foram capazes de fazer nas últimas décadas: reduzir a fome que hoje aflige mais pessoas do que nunca, mais precisamente um bilhão em todo o mundo. Na melhor das hipóteses, esta poderia ser uma situação em que todos ganham, com lucro para os investidores e desenvolvimento para os pobres.Não são apenas os banqueiros e especuladores, mas também os governos que estão adquirindo terras em outros países, buscando reduzir sua dependência do mercado mundial e das importações.
Mas o que acontecerá num mundo globalizado quando as colônias surgirem novamente? O que acontecerá, por exemplo, se a Arábia Saudita adquirir partes da região de Punjab no Paquistão ou se os investidores russos comprarem metade da Ucrânia? E o que acontecerá quando a fome atingir esses países? Será que os estrangeiros ricos instalarão cercas elétricas em volta de suas terras e guardas armados escoltarão os carregamentos das safras para fora do país? O Paquistão já anunciou planos para enviar 100 mil membros de suas forças de segurança para proteger as terras pertencentes a estrangeiros. [....]"
3 comentários:
Excelente artigo! E questões pertinentes, diga-se (último parágrafo). Obrigado por postar sobre este assunto no teu blog.
Abraço e força!
Tanx caboverdianos...
Abraço
A mim, parece-me mais um negócio com pernas para andar. Mas esses recursos devem ser tratados como long-term assets e, bem geridos. Mas isso, em África, é pedir muito.
Vai dar calamidade.
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