segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Património Genético Português- Luísa Pereira e Filipa M. Ribeiro

"Combinando contributos de áreas tão diferentes como a genética, a arqueologia, a antropologia, a história e até a climatologia, este livro oferece uma visão multifacetada de uma memória que deixamos impressa neste mundo: seja pelos genes, pelas viagens, pelas relações interpessoais ou por um pouco de tudo isto. Cada homem, na sua especificidade genética, tem um significado evolutivo. E não se pode compreender a evolução sem compreender a variação"

Percentagem de linhagens eursasiáticas em várias ex-colónias portuguesas

País

Componente

Masculina

Componente

Feminina

Cabo Verde

54

2

São Tomé e Príncipe

20

0

Angola

12

0

Moçambique

6

0

População «branca» do Brasil

99

33

.
Cabo Verde
"Apesar de a ilha do Sal ser conhecida por pescadores mouros,wolof e serer, o arquipélago de Cabo Verde só foi descoberto em 1460 pelos portugueses, estando desabitado. A colonização começou em 1461, na ilha de Santiago, seguida pela do Fogo, com uma população mista de nobres portugueses, genoveses, aventureiros, exilados e condenados, bem como de judeus - no masculino, porque não havia mulheres entre estes colonizadores. Começou logo a formar-se uma população de mulatos ou crioulos, que corresponde à quase totalidade da população, através de acasalamento com escravas. A proporção de europeus nunca foi muito elevada e, por exemplo, em 1582, as ilhas de Santiago e Brava tinham pouco mais de 100 homens europeus e mais de 13.000 escravos africanos. Os primeiros africanos a serem levados para as ilhas foram escravos apanhados ao longo do rio Senegal pelos mouros, que os vendiam aos Wolof e estes vendiam-nos, por sua vez, aos portugueses. Há descrições de que existiam guanches, o povo original das Canárias, entre esses primeiros escravos.Distando 640 km da costa africana, o arquipélago serviu como base para o tráfico de escravos explorado pelos portugueses. A ilha de Santiago era posto de paragem obrigatória para os navios que seguiam em direcção a Angola, São Tomé e Príncipe e, mais tarde, Brasil e Antilhas".
O estudo do ADN mitocondrial foi efectuado em quase 300 habitantes das ilhas de Cabo Verde:
" apenas 2%, de linhagens maternas que poderiam ter sido introduzidas a partir da Europa, e uma percentagem semelhante, que poderá ter sido introduzida pelo Norte de África ou pelos Guanches trazidos das Canárias.A grande proporção de linhagens subsarianas mostrava uma elevada identidade de haplótipos com os descritos para São Tomé e Príncipe, o que está de acordo com dados históricos de migrações de cabo-verdianos para São Tomé, e uma origem na costa oeste africana. Já para as linhagens paternas, uma elevada percentagem de 53,5% das linhagens cabo-verdianas são afiliáveis em haplogrupos europeus e do Próximo Oriente; uma outra linhagem típica do Próximo Oriente foi observada numa proporção de 20,5%, o que pode em parte ter sido devido à migração de judeus safardistas; e uma baixa percentagem de 15,9% é afiliável em linhagens da costa oeste africana.
Esta elevada proporção de linhagens europeias e do Próximo Oriente, apesar de restrita à componente masculina,é testemunha da elevada miscigenação da população de Cabo Verde, que pode ser também constatada em várias características morfológicas."

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