"Vivemos, é verdadeiramente redundante afirmá-lo, uma crise de confiança global. Em momentos como este, o valor da esperança é particularmente decisivo. Quaisquer que sejam as perspectivas que cada um de nós trace, quaisquer que sejam as receitas para vencer a crise que cada qual preconize, sem condições para gerar esperança não é possível iniciar o movimento de recuperação da confiança. Não é por acaso que alguns economistas depositam tanta fé no intangível «efeito Obama». Tendo a crise uma base largamente intangível (a confiança), o caminho para a recuperação pede soluções que, na sua verdadeira essência, são elas próprias intangíveis (a esperança).Cabo Verde vive, deste ponto de vista, um momento duplamente difícil. Por um lado não tem obviamente autonomia para resolver, sozinho, a crise global. Mas o país não tem simultaneamente as melhores condições para gerar ondas de grande esperança. E não me refiro às particularidades da nossa economia (outros haverá, mais habilitados do que eu, para discorrer sobre elas). Refiro-me ao actual momento político: diga-se o que se disser, a verdade é que Cabo Verde não conseguiu gerar uma alternativa credível ao governo do José Maria Neves. E sem a esperança (ainda que eventualmente exacerbada) no efeito de uma mudança de actores e de políticas, sobram, de facto, menos razões para acreditar no restabelecimento da confiança.Mas desejaria, confesso, que o MPD se apresentasse, a bem do país e da economia, como uma verdadeira alternativa geradora de esperança. Acontece que o MPD está ferido de vários «pecados». Desde logo o seu grande «pecado original»: não acredito, julgo que poucos acreditam, que o Eng. Jorge Santos, com todas as suas qualidades, represente muito mais do que uma solução transitória para vencer as dificuldades do partido. Depois porque o MPD, longe de propor alternativas verdadeiramente sustentadas às políticas do actual executivo, tem-se largamente limitado a cavalgar de forma oportunista ondas de insatisfação ou de pânico irracional que, ocasionalmente, foram rebentando na sociedade caboverdiana (estou a pensar, por exemplo, na «onda de violência» e nas acusações anónimas de corrupção). Finalmente, porque o MPD tem sido incapaz de revelar uma indispensável coesão e consistência entre o seu discurso oficial e a as poucas decisões concretas que foi tomando.Seria irresponsável e muito pouco independente defender que a solução para os problemas do país passa necessariamente pelo MPD. Mas julgo que é pacífico afirmar que Cabo Verde só teria a beneficiar com a existência de verdadeiras alternativas políticas em confronto sem as quais é impossível criar razões para alguma esperança que possa ser o sustentáculo da recuperação da confiança. Para que isso aconteça o MPD precisa de redimir todos e cada um destes seus pecados.Precisa-de um Partido de Esperança!"
*texto adaptado.
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