1. A relação com as estatísticas de muitos dos utilizadores do chavão é no mínimo curiosa. Cépticos sempre que as estatísticas anunciam alguma evolução positiva, estão prontos para as usar com profusão quando com elas conseguem sustentar uma qualquer atitude crítica. É como se, numa espécie de deriva marxista primitiva, as estatísticas tivessem uma natureza “de classe”.
2. Aquilo a que habitualmente chamamos “estatísticas” não é mais do que um tipo particular de indicador da realidade social. Como todos os indicadores, umas serão tecnicamente melhores do que outras. E também como todos os indicadores, poderão ser usadas com mais ou menos competência. O que não têm é uma natureza esquizofrénica, positiva quando permitem o exercício da crítica, negativa quando usadas para identificar progressos em relação a metas pré-estabelecidas.
3. As estatísticas, como outros indicadores, devem ser usadas para, entre outras coisas, monitorar os resultados das políticas, ou seja, os resultados de processos que, tendo um âmbito macrossocial, não podem ser directamente observados. A aplicação de políticas sem monitorização com recurso a estatísticas equivale a conduzir um carro de olhos vendados.
4. “Trabalhar para as estatísticas”, no sentido de trabalhar tendo em conta o efeito estatisticamente controlável dos resultados obtidos, é pois “trabalhar para a realidade”. Trabalhar sem estatísticas é trabalhar com desprezo pelos efeitos reais dos actos sobre a realidade, muitas vezes diferentes dos efeitos esperados e portanto não dedutíveis das intenções das políticas.
5. Em rigor, o desdém pela definição de metas monitorizáveis com, entre outros instrumentos, o recurso a estatísticas, escancara as portas à irresponsabilidade na decisão política».
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