terça-feira, 27 de abril de 2010

Valores e Delinquência

«Padre Campos, figura carismática e lendária em Cabo Verde, considera que a onda de delinquência juvenil com que se depara o país resulta da “perda de valores”, agravada com a onda dos negócios da droga». Não é a pobreza mas sim a perda de valores.Antigamente os pobres eram pobres e mesmo assim não optavam pela delinquência porque tinham valores!Principalmente valores como respeito pelos mais velhos,a ética do trabalho esforçado e a honradez.Pobre mas honrado.Era o pobre conformado. Isto é o que nos diz o conservadorismo,e os conservadores,para justificar a delinquência juvenil.Para eles,esta é a principal causa da delinquência juvenil.
Mas será mesmo que se "perdeu" esses valores antigos?Não creio.As pessoas não nascem sabendo os valores de um sociedade e essas,por sua vez,não são "naturais".O problema está mais na "transmissão" desses valores,regras e normas sociais do que na sua inexistência.Ou seja,os agentes de socialização primária,aquelas que têm a função de incutir nos indivíduos os valores duma sociedade,estão a falhar.A família já não consegue e a escola já se "demitiu" dessa função.Com a perda da influência da religião,não podendo contar com aquelas duas instituições sociais (escola e família) nem com a solidariedade comunitária que havia antigamente,os jovens pobres de hoje,ao contrário do que acontecia com os pobres de ontem,foram e estão a ser socializados pelos media (internet,televisão,música,mtv,black-american life style,etc) e pelos grupos de pares (gangs,repatriados dos EUA e jovens que socializados no mesmo contexto).Daí que os únicos valores,regras e normas sociais que interiorizam são aquelas transmitidas pelos media e pela gang.Obviamente não serão os valores tradicionais de uma sociedade.Enquanto os jovens pobres de hoje são expostos à um processo de socialização negativa os jovens pobres de ontem não passavam por esse processo.Eis porquê o jovem pobre de ontem não escolhia o caminho da delinquência e do crime.

2 comentários:

Anónimo disse...

De facto, a condição sine quo non para a redução ou prevenção da delinquência juvenil, passa por transmitir valores uteis, necessários para a convivência sã e a existência de uma sociedade civil organizada onde a paz reina e a delinquência seja a excepção.
Lembro-me (com muitas saudades) do tempo em que o meu Pai contava-me estórias do "homem pobre mais honesto"; aquele homem que, não obstante ser pobre, ter um rendimento que não permitia-o viver uma vida de luxo, era um homem honesto, trabalhador e respeitado (e isso é importante) por todos. Hoje em dia, lamentavelmente, deixamos de valorizar os valores de um bom pai de família, do pai honesto, trabalhador, correcto, cumpridor das normas, enfim, o homem ideal (com defeitos é claro). Aliás, há certos valores que nos caracterizam como seres humanos, sem os quais, deixámos de o ser – pelo menos aquilo que devíamos ser. Ou seja, abdicamos daquilo que é saudável para a nossa sociedade, e tornámos numa sociedade muito materialista, onde - lamentavelmente mais uma vez - deixamos de valorizar esses princípios de carácter e não de material. O homem passou hoje a ser reconhecido e respeitado pelos bens materiais que possui! Se tem um bom carro, todos nós o conhecemos, se tem uma casa que custa milhares de contos, é famoso, se veste bem, se ganha bom dinheiro aparece na revista Uhau, se é político (corrupto ou não) é um grande homem. Ou seja, o grande homem passou a ser "o grande possuidor", independentemente de que meios fez uso para obter os referidos bens. Ninguém quer saber que este ou aquele é traficante, ladrão ou outra coisa qualquer, só queremos saber se tem bens ou não, porque, se os tiver é reconhecido e respeitado como um grande homem.
Mas, a questão fundamental é o de saber a quem deve-se imputar esse fenómeno (delinquência juvenil). Confesso não ter a resposta certa, no entanto, os pais não deixam de ter uma quota-parte do bolo. Em Cabo Verde, temos ideias muito proteccionistas em relação aos filhos, pois cultivamos a crença de que os nossos são bons e dos outros é que são maus. Vamos ao ponto de proteger os nossos culpando os outros, mesmo sabendo, incontestavelmente, que a culpa é do nosso. A negação só conhece uma linguagem - o de continuar a fazer, pois, os culpados são sempre os outros. Quando assim é, naturalmente, não transmitimos nenhum valor (positivo) que possam contribuir para a auto consciência da consequência dos actos e a consequente responsabilização dos mesmos.
"A culpa não pode continuar a morrer solteira"

KCM

Edy disse...

Concordo plenamente KCM..