sábado, 23 de agosto de 2008

Monopólio vs. Concorrência

Existem mercados onde a introdução de um sector concorrencial,embora tenha alargado o leque de alternativas oferecido aos consumidores,reduziu a qualidade dos produtos e acabou por degenerar numa baixa real das opções.Exemplo típico deste processo pode ser dado pelo mercado televisivo e pelo mercado jornalístico.A transição de um regime monopolista para um regime concorrencial entre vários canais ou jornais conduz os clientes a imaginarem uma situação em que a oferta de programas se diversifica e o acréscimo de opções jornalistica sobe.No entanto,se se criar um índice de variação de programas que compare a diversidade da oferta em períodos monopolistas e a diversidade da oferta em momentos de concorrência,tal índice revelará que a variedade é decrescente e não crescente.O que é que pode explicar a redução da variedade da oferta,quando o número de alternativas é cada vez maior?O que é que estará na base de uma homogeneização da programação,havendo menos opções com 3 canais generalistas do que no momento em que havia apenas 1 canal?O que pode explicar que tantos jornais parecem o mesmo e tratam os mesmos assuntos?
A explicação é mais fácil do que parece.O que acontece correntemente é que as organizações são pautadas por lutas constantes pela sobrivivência em contexto de incerteza.A maior parte das organizações está mais interessada na sobrivivência do que na maximização dos seus resultados,sobrivivência essa que está mais causalmente relacionado com a legitimidade social conquistada do que com o desempenho ou a eficiência.Ou seja,as organizações são mais gestoras de impressões e manipuladoras da aceitação social do que máquinas que conquistam a eficiência económica,baixando custos e aumentando as receitas.A gestão social em contextos de incerteza leva a que o mimetismo seja uma forma de baixar os riscos.Copiar as empresas instaladas ou tidas como de maior sucesso é uma forma de minimizar os perigos aparentes.Ao mimetismo vem-se somar a acção das agências de regulação e demais instituições com poder normativo,que forçam prática únicas,e a profissionalização dos campos,que leva à formação de actores com as mesmas características e com as mesmas predisposições.Desta forma,a transição do monopólio para a concorrência pode,contra todas as expectativas,reduzir as opções e diminuir a qualidade da programação.

4 comentários:

pura eu disse...

Fui convidada a comentar este post, e assim o farei. Este texto, no meu ver, toca numa questão mais problemática do que parece, e eu, gostaria de ser mais directa, porque este quadro Monopólio/concorrência em Cabo-Verde, em matéria de televisão, assume um papel específico.
Primeiro, não existe entre os próprios operadores de Televisão uma mentalidade de concorrentes, porque uns estão aí para cumprir tarefas para as quais foram concebidas, e outras atrofiadas nas suas próprias caudas. Se a Record Cabo Verde estivesse realmente interessada em fazer televisão já não tinha esmagado a TCV e a Tiver? Mas que tipo de mercado estaria a suportar essa poderosa TV?? Ciente disso, a TCV anula um possível concorrente da sua lista, e resta ao lado a Tiver (que objectivamente falando, não pode ser considerada uma concorrente da TCV). O problema continua a estar em nós da Estação Pública (e este é um segundo debate). Nós daríamos por satisfeitos se fossemos, neste momento “gestoras de impressões e manipuladoras da aceitação social”, acreditem. Mas não o somos, (ou chegamos lá precariamente) por atropelos vários, que independem da existência ou não da concorrência.
O debate sobre o mercado nos passa ao largo, simplesmente porque o mercado cabo-verdiano nunca pagaria uma boa televisão! E é por isso, que a Tiver, que me parece uma Estação que poderia ter fortes cumplicidades com o mercado, não a consegue ter.

Boa reflexão para vcs.

Redy Wilson Lima disse...

Penso que isto de dizer que o mercado cabo-verdiano nunca pagaria uma boa televisão é desculpa para explicar a porcaria que é a TCV.
Se o Estado quisesse a TCV seria sim uma boa televisão pública, começando por despedir com justa causa muitos parasitas que por ali andam e dando formação a sério aos seus técnicos.
A TIVER nunca poderá ser considerado uma televisão a sério enquanto não deixar de passar filmes piratas (muitos em péssimas qualidades).
A rede Record Cabo Verde foi pensado com um único objectivo, aumentar o número dos fiéis para a Igreja Universal do Reino de Deus.

Edy disse...

Ora viva miúda,tudo bem?
reconheço que a explicação contida no post é para um mercado verdadeiramente concorrêncial.Mas aposto que ja estiveste em portugal ou brasil a fazer zapping e pensaste "fogo,é tudo a mesma coisa";aí tens uma explicação para esse mimetismo.Considero mais óbvio saber quem está sustentando a Record do que saber quem sustenta a Tiver (sabemos que a Record pertence a uma organização religiosa muito rica,mas como é que a Tiver consegue se financiar?).È que,como bem disseste,não existe um mercado publicitário para sustentar nem a TCV quanto mais as outras...mas pq não existe esse mercado?simplesmente porque as nossas empresas não produzem nada e,consequentemente,não há necessidade de publicitar um produto que não produzem.

Redy,
não posso concordar nem discordar contigo sobre a qualidade profissional dos técnicos da TCV,mas estou contigo quando afirmas que a nossa telivisão não é digna de um país de desenvolvimento médio.Contudo,acho que a maior parte da culpa cabe ao nosso estado (ex e actuais governantes) que nunca fizeram nada para modernizar a empresa.Olha que a questão do mercado não é uma desculpa qualquer como disseste.Um desafio para ti Redy: qual é a solução para TCV?

pura eu disse...

É isso, Edy! E como sabes, todos perdemos: o mercado que não produz, e a TV que não é desafiada. Isso, se tratando de mercado.
Redy, eu disse que a TCV (o serviço público; a sua relação com o Estado) é um outro debate. E concordo, se o Estado quisesse teria na TCV um bom serviço público.

Abs.