sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Estado da Oposição

No tempo da monarquia constitucional, os governos não caíam por pressão popular. Saíam do poder por cansaço. Os caciques locais mudavam de partido e, com isto, a anterior oposição ganhava a sua saudável maioria. Até que chegasse o momento de esta se sentir exausta e se arrastar até ao monarca a pedir a marcação de novas eleições.
Na Inglaterra, a ironia baptizou quem estava fora do poder como "leal oposição": era-se opositor, mas não se pressionava demasiado. Hoje não é assim. Nenhum partido no seu perfeito juízo diz que está cansado de governar, mesmo quando S. Pedro envia chuva financeira contínua e esta se transforma em dilúvio. Mas, em Cabo Verde, assiste-se neste momento a uma coisa curiosa. Não é o Governo que mostra estar cansado de exercer o poder. É, absurdamente, a oposição que parece estar demasiado cansada para fazer a sua leal função de tentar ser alternativa ao Governo. Conforme se depreende no discurso de Jorge Santos no "A semana", o MPD já parece cansado antes de ir para eleições: ao invés de investimentos de "duvidosa rentabilidade" o MPD,quando for governo,irá dar prioridade às PME,mas não diz como se concretizar essa prioridade e nem aprensentam medidas que ajudem ao governo a "rivitalizar" esse sector ("o segredo é alma do negócio"?);contra a asfixia fiscal,pretendem baixar os impostos sem dizer qual seria o impacto dessa baixa de imposto ou como pensam compensar essa perda de receita;para terminar,para vincar a sua costela liberal da direita,pretendem combater o défice com "redução gradual das funções do Estado, transferindo para a iniciativa privada e social, serviços, actividades e funções que não devem estar no Estado" sem mencionar quais os serviços do Estado que pensam transferir para o sector privado. Se não tivesse lido e ouvido,tenderia a pensar que esse discurso foi escrito para um trabalho de "introduçao à economia" do 12º ano.Compreende-se que a política económica do MPD não seja muito diferente da de José Maria Neves; a principal diferença é a eficácia deste.Mas o que surpreende é que o Governo, neste momento, esforça-se por parecer activo. E a busca de investimentos externos mostra isso. Só que, perante tudo o resto, o MPD está inerte. Como se tivesse feito uma maratona e o seu líder estivesse esgotado. De forças e de ideias. O MPD, neste momento, é a leal e cansada oposição de José Maria Neves.

2 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais Edy! E, tens sorte, porque tu (se não interpretei mal) estás a viver fora do país.

Se estivesses cá, estarias desesperado com a falta de oposição que temos em Cabo Verde.

É sempre importante ter uma oposição que saiba fazer "oposição" e pressão ao Governo.

Esta que temos é uma autêntica txokota.

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Edy disse...

Viva Salim,
tens razão,estou em Lisboa...mas digo-te,mesmo estando fora acredito que o desespero é o mesmo.Fica-se com a sensação de que o MPD está apenas a aquecer as cadeiras do parlamento a espera que o POVO canse do governo para chegarem ao poder.È isso que desespera e,muitas vezes,apetece gritar a celébre resposta duma ex-ministra em portugal a um deputado da oposição: "o senhor não merece o salário que ganha!!
Abraço