quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Jornalista em Construção

A dificuldade de delimitação clara do âmbito de actividade dos jornalistas enquanto profissionais caminha a par da dificuldade de definição clara da sua própria actividade:o jornalismo.E é a luta pela afirmação desta actividade como uma actividade autónoma,específica,cientificamente caracterizável e merecedora de um reconhecimento social particular,que impele os seus intérpretes a assumirem-se como profissionais,a afirmarem-se como os únicos legítimos ocupantes deste ´espaço` e a traçarem uma linha divisória que exclua todos os "nãos profissionais".
Podemos fazer várias leituras sobre a recente lei que exige formação universitária para o exercício do jornalismo. Apesar do fechamento do mercado de trabalho em prol do monopólio de controlo da profissão e do mercado,a exigência de uma formação especializada é menos um atributo da profissão e mais um meio,um recurso para o processo de profissionalização: o aumento de níveis de qualificação é fundamental nos conflitos de disputa de áreas de trabalho e respectivas "fronteiras" entre grupos ocupacionais,pelo que a formação e as escolas se transformaram em instituições que atribuem licenças para trabalhar numa ocupação,assim,estabelecendo a distinção entre os verdadeiros profissionais e os leigos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Valores e Delinquência

«Padre Campos, figura carismática e lendária em Cabo Verde, considera que a onda de delinquência juvenil com que se depara o país resulta da “perda de valores”, agravada com a onda dos negócios da droga». Não é a pobreza mas sim a perda de valores.Antigamente os pobres eram pobres e mesmo assim não optavam pela delinquência porque tinham valores!Principalmente valores como respeito pelos mais velhos,a ética do trabalho esforçado e a honradez.Pobre mas honrado.Era o pobre conformado. Isto é o que nos diz o conservadorismo,e os conservadores,para justificar a delinquência juvenil.Para eles,esta é a principal causa da delinquência juvenil.
Mas será mesmo que se "perdeu" esses valores antigos?Não creio.As pessoas não nascem sabendo os valores de um sociedade e essas,por sua vez,não são "naturais".O problema está mais na "transmissão" desses valores,regras e normas sociais do que na sua inexistência.Ou seja,os agentes de socialização primária,aquelas que têm a função de incutir nos indivíduos os valores duma sociedade,estão a falhar.A família já não consegue e a escola já se "demitiu" dessa função.Com a perda da influência da religião,não podendo contar com aquelas duas instituições sociais (escola e família) nem com a solidariedade comunitária que havia antigamente,os jovens pobres de hoje,ao contrário do que acontecia com os pobres de ontem,foram e estão a ser socializados pelos media (internet,televisão,música,mtv,black-american life style,etc) e pelos grupos de pares (gangs,repatriados dos EUA e jovens que socializados no mesmo contexto).Daí que os únicos valores,regras e normas sociais que interiorizam são aquelas transmitidas pelos media e pela gang.Obviamente não serão os valores tradicionais de uma sociedade.Enquanto os jovens pobres de hoje são expostos à um processo de socialização negativa os jovens pobres de ontem não passavam por esse processo.Eis porquê o jovem pobre de ontem não escolhia o caminho da delinquência e do crime.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Pobreza e Delinquência Juvenil

Mais uma vez a ideologia conta: uns defendem que a pobreza explica a delinquência juvenil e outros contrapõem que a delinquência é explicada pela perda de valores e não pela pobreza.Estes últimos argumentam com a existência de vários jovens oriundos de famílias pobres que não enveredam pelo caminho da delinquência.Têm razão;nem todos os jovens de famílias pobres escolhem a delinquência como modo de vida e nem todos são delinquentes em virtude da pobreza familiar.Ser pobre não é apenas uma situação de privação de recursos financeiros da pessoa ou da família;é também uma condição caracterizada por um enorme escassez de vários tipos de recursos que,em conjunto,normalmente leva a uma situação de socialização negativa (um jovem pobre não tem o mesmo capital social que um jovem da classe média).Em qualquer estudo estatístico,em qualquer país,pode-se encontrar essa ligação entre a pobreza e a delinquência juvenil.Contudo,é aqui que reside o erro dos defensores da hipótese da pobreza ser uma causa da delinquência.Estipulam uma correlação determinística entre a pobreza e a delinquência quando,como devia saber um cientista social com um mínimo de conhecimento de estatística,a relação entre dois fenómenos sociais não são determinísticas mas sim probabilística.Ou seja,um não determina obrigatoriamente a outra;não é por ser pobre que um jovem vai se transformar num delinquente.Quando fazemos uma ligação entre os dois fenómenos,estamos a falar numa relação probabilística: há maior probabilidade de encontrarmos mais jovens oriundos de famílias pobres no seio de grupos de delinquentes do que jovens de famílias mais abastadas.É verdade que há muitos mau estudos que fica por essa constatação e há mais ainda que vinca,erradamente,essa relação determinística.Entre os dois fenómenos existem vários mecanismos sociais que faz com alguns jovens - pobres ou não - se virem para a delinquência e outros não (entre esses mecanismos sociais encontramos,por exemplo,as redes sociais,a questão do poder,estilos de vida,etc.).Não é por serem pobres que decidem delinquir não obstante a maioria dos delinquentes serem pobres.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Património Genético Português- Luísa Pereira e Filipa M. Ribeiro

"Combinando contributos de áreas tão diferentes como a genética, a arqueologia, a antropologia, a história e até a climatologia, este livro oferece uma visão multifacetada de uma memória que deixamos impressa neste mundo: seja pelos genes, pelas viagens, pelas relações interpessoais ou por um pouco de tudo isto. Cada homem, na sua especificidade genética, tem um significado evolutivo. E não se pode compreender a evolução sem compreender a variação"

Percentagem de linhagens eursasiáticas em várias ex-colónias portuguesas

País

Componente

Masculina

Componente

Feminina

Cabo Verde

54

2

São Tomé e Príncipe

20

0

Angola

12

0

Moçambique

6

0

População «branca» do Brasil

99

33

.
Cabo Verde
"Apesar de a ilha do Sal ser conhecida por pescadores mouros,wolof e serer, o arquipélago de Cabo Verde só foi descoberto em 1460 pelos portugueses, estando desabitado. A colonização começou em 1461, na ilha de Santiago, seguida pela do Fogo, com uma população mista de nobres portugueses, genoveses, aventureiros, exilados e condenados, bem como de judeus - no masculino, porque não havia mulheres entre estes colonizadores. Começou logo a formar-se uma população de mulatos ou crioulos, que corresponde à quase totalidade da população, através de acasalamento com escravas. A proporção de europeus nunca foi muito elevada e, por exemplo, em 1582, as ilhas de Santiago e Brava tinham pouco mais de 100 homens europeus e mais de 13.000 escravos africanos. Os primeiros africanos a serem levados para as ilhas foram escravos apanhados ao longo do rio Senegal pelos mouros, que os vendiam aos Wolof e estes vendiam-nos, por sua vez, aos portugueses. Há descrições de que existiam guanches, o povo original das Canárias, entre esses primeiros escravos.Distando 640 km da costa africana, o arquipélago serviu como base para o tráfico de escravos explorado pelos portugueses. A ilha de Santiago era posto de paragem obrigatória para os navios que seguiam em direcção a Angola, São Tomé e Príncipe e, mais tarde, Brasil e Antilhas".
O estudo do ADN mitocondrial foi efectuado em quase 300 habitantes das ilhas de Cabo Verde:
" apenas 2%, de linhagens maternas que poderiam ter sido introduzidas a partir da Europa, e uma percentagem semelhante, que poderá ter sido introduzida pelo Norte de África ou pelos Guanches trazidos das Canárias.A grande proporção de linhagens subsarianas mostrava uma elevada identidade de haplótipos com os descritos para São Tomé e Príncipe, o que está de acordo com dados históricos de migrações de cabo-verdianos para São Tomé, e uma origem na costa oeste africana. Já para as linhagens paternas, uma elevada percentagem de 53,5% das linhagens cabo-verdianas são afiliáveis em haplogrupos europeus e do Próximo Oriente; uma outra linhagem típica do Próximo Oriente foi observada numa proporção de 20,5%, o que pode em parte ter sido devido à migração de judeus safardistas; e uma baixa percentagem de 15,9% é afiliável em linhagens da costa oeste africana.
Esta elevada proporção de linhagens europeias e do Próximo Oriente, apesar de restrita à componente masculina,é testemunha da elevada miscigenação da população de Cabo Verde, que pode ser também constatada em várias características morfológicas."

terça-feira, 13 de abril de 2010

What´s the Right Thing to Do?

"Is torture ever justified?Would you steal a drug that your child needs to survive?Is it sometimes wrong to tell the truth?How much is one human life worth?
What do you think and why?"

Esssas e outras questões morais que relacionam a Justiça,Moral e Filosofia são tratadas nas lições "Justice with Michael Sandel" da universidade de Harvard.Podem assistir as aulas no site próprio ou via youtube,como no caso desta 1ª aula que vos deixo como exemplo.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Instituto de Propriedade Intelectual

Esse Instituto de Propriedade Intelectual é uma boa notícia para os nossos criadores (homens da cultura e os seus direitos autorais,etc.) e,caso tenha também esta função ou um gabinete de propriedade industrial,para a nossa economia (patentes,propriedade industrial,registo de marcas comerciais,inovação,invenção,etc.).Acredito que a promoção da nossa indústria exige um menor grau de protecção da propriedade intelectual e industrial,comparativamente à países mais desenvolvidos,o que significa maior liberdade de circulação da informação técnica,com o objectivo de reduzir a dependência tecnológica externa.Ou seja,a fraca protecção tende a multiplicar os patentes e o processo de imitação/adaptação.Numa perspectiva sistémica,o sistema nacional de propriedade intelectual abarca tanto os criadores culturais e os seus bens intangíveis como o subsistema industrial e os seus patentes.

ps: esta será também uma boa novidade para os jovens advogados e estudantes de Direito; o Direito da Propriedade Intelectual (e na área das patentes) é uma área com futuro promissor nas profissões jurídicas.

Escassez de Mão-de-Obra e Abundância de Boca para o "Grogu"

A falta de mão-de-obra que está a afectar a colheita de cana-sacarina e o cumprimento de prazo nas obras públicas não tem nada de surpreendente e as causa estão bem identificadas no artigo do jornal A Semana: «O alcoolismo e a fraca produtividade, a especulação do preço por jornada de trabalho e o desinteresse da juventude pelo sector agrícola, em particular aqueles com nível de escolaridade mais elevado são, de entre outros, os factores que estão na origem da falta de mão de obra", afirmam os agricultores de Santo Antão».E é por causa destes mesmos motivos que,cada vez mais,as ofertas de emprego no sector primário tem sido preenchida básicamente por imigrantes.Contudo,não basta notar que o nível da escolaridade dos jovens leva a recusa de trabalho nesses sectores: é preciso também dizer que esses sectores,principalmente no caso da plantação da cana-sacarina e produção do "grogue",têm acompanhado com muitas dificuldades o desenvolvimento do mercado em termos da sua mecanização do equipamento de produção e da automatização do processo de trabalho.Ou seja,há claramente uma falta de modernização industrial desse sector (e também falta de políticas de apoio a essa modernização).Será que a ADEI (Agência de Desenvolvimento Empresarial e Inovaçao) tem algum projecto de modernização ou inovação para este sector?Por outro lado,por uma razão ou por outra,esta situação é indicador de falhas ou vazios nas políticas de formação profissional,a nível estatal e municipal.Como é que se pode esperar que jovens com 12º ano de escolaridade estejam disponíveis para aceitar este tipo de trabalho? Porquê é que não se organiza formações profissionais na área de produção e comercialização dos produtos agricolas/bebidas ou em gestão de empresas agrícolas,etc.,coordenada por uma cooperativa de produtores e certificada pelo IEFP?Esta seria uma forma de recrutar trabalhadores formados e com conhecimento na área...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Inovação como moda

"A inovação é um noção que se banalizou nos discursos do quotidiano,incluindo o discurso académico,para designar frequentemente aquilo que há apenas uma década se chamava de "mudança".O termo é invocado amiúde e não tem sentido preciso,talvez pela sua banalização e entrada,como uma espécie de efeito de moda,no discurso do quotidiano.Este discurso é veiculado por um grande diversidade de registos,desde o político ao cidadão comum,mais ou menos informado,do jornalístico ao académico,e transformou-se numa espécie de mito dos nossos tempos.Fala-se na inovação social,tecnológica,organizacional,da inovação no ensino,na formação,na gestão de recursos humanos,de políticas e práticas inovadoras,etc.,para designar aquilo que há uma década atrás se chamava de "mudança" e tendo sempre,mais ou menos subjacente,o sentido de benefício social e societal de carácter quase urgente.A mitificação da inovação é visível,por exemplo,através do discurso de grupos com posições e interesses diferenciados na sociedade,produzindo uma espécie de efeito mágico gerador de consensos sociais".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Mais ciência no debate

O debate sobre a delinquência juvenil,a violência urbana e os thugs em Cabo Verde está contaminado por análises e respostas profundamente ideológicas: uma sensibilidade de esquerda é levada a acentuar as determinações económicas;uma sensibilidade de direita vem sublinhando as iniciativas individuais (e pelo que tenho lido,os estudos que já se fez sobre esse fenómeno no país também sofreram essa contaminação).Talvez um pouco por causa disso,as soluções não tem sido consensuais entre os especialistas (e entre os políticos) e os resultados não tem sido o desejável...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quadro de oftalmologista sádico

I&D e Inovação

Sendo a base da inovação tecnológica e do sistema nacional de inovação de qualquer país,em Cabo Verde as actividades de I&D (investigação e desenvolvimento) ainda não conhecem melhores dias tanto a nível do sector público como a nível do sector privado.Se, por um lado, não existem programas de incentivo à I&D nas empresas, por outro, há um resistência por parte das empresas em valorizarem as actividades de I&D como um investimento. Simplesmente consideram a I&D como uma actividade exclusiva das universidades e, consequentemente, um desperdício de capital para as empresas. E isto deve-se, principalmente, a dois factores:

- os empresários e as empresas cabo-verdianas não tem a cultura de I&D e de inovação;

- e, ao longo dos anos,o clientelismo político, a evasão fiscal e incipiente regulação, tem causado falhas de mercado afectando assim a concorrência e a competitividade empresarial.

A pergunta que se impõe é a seguinte: o que é que o Estado, nomeadamente através do Ministério da Ciência e Ensino Superior, do Ministério das Finanças e o Ministério do Turismo e Indústria, está a fazer ou pensa fazer para, simultaneamente, corrigir as falhas do mercado e incentivar o investimento em I&D e inovação dentro das empresas?Ou melhor,existe uma política de ciência,tecnologia e inovação no país?