quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Política como profissão

Sejamos claro: hoje em dia a política é cada vez mais uma profissão e os políticos são,cada vez mais,profissionais da política. Há muitos que fizeram e outros estão a fazer carreira profissional na política e, como em todas as profissões, também existem estratégias próprias de consolidação da política como campo profissional e de desenvolvimento da carreira profissional. Embora não seja juridicamente reconhecida como uma profissão e nem esteja regulamentada como tal, na prática, em termos da lógica do funcionamento interno do campo, ela vem se tornando cada vez mais uma profissão com lógica própria de recrutamento, evolução na carreira e reforma. Não muito diferente das outras profissões "normais". Pelo que, já não se justificando alguns dos “privilégios” exclusivos dessa “profissão”, já é altura de se reconhecer a política como uma profissão e, consequentemente, criar condições para um maior paralelismo entre a carreira política com carreiras em outras profissões.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aposta na inovação?

Estará mesmo o governo a apostar na construção de uma economia inovadora? Qual é a quantia do orçamento do Estado destinada a área de ciência e investigação aplicada? Alguém sabe se o Ministério de Ciência, Cultura e Ensino Superior tem ou está a trabalhar em algum programa de incentivo à investigação e inovação dentro da empresas? Existe algum incentivo fiscal neste sentido? É bem provável que, para a maioria das empresas cabo-verdianas, a inovação, aquela que conta, seja um “sonho” de políticos porque, como todos sabem, as empresas cabo-verdianos tem pavor a gastos – e a inovação exige gastos enormes, muitas vezes sem retorno. Há algum programa ou intenção de estimular o relacionamento universidades/empresas? Ao contrário do que diz o Rony, o Novo Banco vai ter maior impacto no empreendedorismo de necessidade do que no empreendedorismo de base tecnológico e na inovação. O instrumento financeiro propício para incrementar a inovação é o Capital de Risco e, por isso mesmo, o governo devia legislar para facilitar o surgimento de mais empresas de capital de risco e de business angels. Parece que a aposta na inovação como factor de competitividade da nossa economia não passa, pelo menos por enquanto, de um plano de intenção para o futuro. Existe uma política de inovação no país? O que anda a fazer o Ministério da Ciência?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Debates da TCV

Acabei de assistir 3 ou 4 programas de debates e entrevistas na TCV em que, de um modo geral, os assuntos centravam-se sobre os principais problemas da sociedade cabo-verdiana (problemas da juventude, alcoolismo, “perda de valores”, consumismo, etc). De um modo geral, esse tipo de debate tem sido feita mais em termos filosóficos do que práticos; talvez por isso tem-se repetido temas não só em mesmo programas como também em programas diferentes. Desses programas todos, ficou em mim algumas inquietações:

   - precisamos urgentemente de estudos sociológicos sobre a sociedade cabo-verdiana no geral e, mais concretamente, sobre o modo de funcionamento dos mecanismos de socialização na sociedade cabo-verdiana;
  - é elucidativo ver a classe média-alta a criticar a nossa sociedade consumista (um velho e conhecido estratégia de defesa de classe);
- os protagonistas nesse debate são os adultos bem formados, os mais velhos e os jovens quadros, os “detentores” dos velhos bons valores e não os supostos jovens “sem valores”;
 - precisamos de parar de falar em “perda de valores”, desde logo porque não há uma “perda de valores” mas sim “mudança de valores”. O facto de estarmos a discutir os valores antigos demonstra que elas continuam “por aí”, interiorizado, quiçá, nos “cidadãos da primeira”;
 - não se ouviu uma única palavra sobre a perda de influência da igreja na sociedade e do seu papel na transmissão de valores; os "culpados" preferidos parecem ser os media, a família e a escola:
 - o mais preocupante para a sociedade cabo-verdiana não é a "mudança de valores" mas sim a inexistência do comportamento cívico. Isto sim perdemos: a educação cívica! E é sobre o comportamento cívico dos cidadãos que os governos, autarquias e outras autoridades podem agir e controlar.

domingo, 17 de outubro de 2010

Publico e Privado

O que é que explica que os presidentes ou directores-gerais de alguns institutos e organismos públicos tenham um vencimento que muitos consideram "principesco"?Quando foi é que se começou a pensar e a acreditar que determinadas funções justificam vencimentos superiores a do presidente da república,a do 1º ministros e ministros?O quê justifica, por exemplo, que o presidente da Bolsa de Valores ganhe mais do que a ministra das finanças? Criou-se uma certa ideia de ter-se de aproximar o salário na função pública àquela praticada no sector privado como estratégia de reter talentos no sector público. Quando menos diferença salarial,menos fuga de quadros para sector privado haverá.Ora,se assim é,para quê os políticos continuam com o discurso moralista sobre o idealismo da função pública?Ao mesmo tempo que apelam ao espírito de abnegação e ao trabalho para o bem comum,reclamam por um salário do sector privado.Será que,comparativamente à média salarial no país, os juízes ganham tão pouco como reclamam?Nada justifica que presidentes de institutos públicos tenham vencimentos comparáveis ou,em muitos casos,superiores a um gestor de um grande empresa privada, mas o facto da oposição não falar sobre isso é sintomático.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Entre poesia e fantasmas


A estratégia política e eleitoral que o MPD vem implementado, independentemente de vir ou não a ter sucesso, é uma estratégia perigosa para o próprio partido. O foco é claro: por um lado, apostar no desgaste do governo, no “cansaço” e na suposta falta de ideias do 1º ministro e na estratégia de desenvolvimento errada preconizada pelo actual governo – daí o slogan “Cabo Verde mesti muda”; por outro lado, é a tentativa de colorir os anos dos governos MPD – daí, o mote “regresso aos bons anos 90”. Fica-se com a sensação de que o MPD ainda não fez o trabalho de casa, não estudou ainda o “mercado eleitoral” e nem o comportamento eleitoral dos novos eleitores pós-anos 90. Parece óbvio que ainda não compreendeu que “os tempos são outros”, as aspirações são outras e, como tal, este novo tempo requer novos métodos, novas ideias e novas esperanças. Certamente, não uma volta aos anos 90 e às mesmas políticas, mesmo reconhecendo que esses anos foram no geral positivo. Contudo, escamotear os aspectos menos positivos do último governo MPD não faz sentido. Ao contrario do que se diz, os eleitores têm memória e ainda se lembram de muitas coisas. E é isto que torna este post do João Dono num erro de principiante com pressa de chegar ao poder: pretender que durante os anos dos governos MPD não havia fome, não havia desemprego, todos os jovens tinham acesso a bolsa de estudos é uma tontice que só prejudica quem o diz!
O perigo dessa estratégia do MPD reside nestes dois aspectos: desvalorizar os aspectos positivos da governação do PAICV e branquear os aspectos menos positivos do governo MPD de fins dos anos 90.
Fosse eu dirigente do MPD, a minha aposta seria certamente não no passado mas sim no futuro: dizer qual é o futuro que preconizamos para o país e quais os caminhos para lá chegar. As pessoas não querem mudança só pela mudança, querem mudar para melhor. E para isso, precisam saber o que é esse melhor! Não me basta ouvir que vão fazer crescer a economia, diminuir o desemprego ou fazer desaparecer a insegurança e a pobreza porque o PAICV também quer a mesma coisa.O que me basta é saber como pensam conseguir tudo isso, quais as medidas e as políticas que vão implementar. Só assim estarei em condições de tomar uma decisão racional sobre o meu voto. Nem as poesias do 1º ministro, nem os fantasmas do MPD!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Economistas!

O debate económico hoje em dia, e nos próximos tempos, resume-se à discussão sobre a gestão contabilística das finanças públicas. Não é preciso os conselhos do mestre Paulo Monteiro Júnior, nem é necessário ser formado em economia: um bom contabilista ou mesmo uma cabo-verdiana de meia-idade experiente na gestão da economia doméstica e do rendimento familiar, faria um bom lugar a frente do ministério das finanças.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Treinadores

A análise da vida política tem imensas semelhanças com a análise desportiva, mais concretamente com a do mundo do futebol. Assim como somos todos adeptos de um ou outro clube, também somos “adeptos” de um ou outro partido e de um ou outra política e programa. Discutimos as políticas, os políticos e os partidos na mesma medida em que discutimos os jogos, os jogadores e as tácticas dos treinadores. Sabemos todos qual deve ser a equipa principal a jogar, quem deve ser substituído e quem deve entrar, qual a melhor táctica a utilizar em cada jogo, onde falhou o treinador, etc. De fora vemos sempre melhor do que aqueles que estão dentro. Somos todos, treinadores da bancada. Igualmente, sabemos todos qual é a melhor política que devia ser implementada em cada área, como deve ser gerida a coisa pública, quais os ministros remodeláveis e quem é ou não ministeriável, porque o 1º ministro está a fazer mal o seu trabalho, porque o governo dever perder as próximas eleições, etç. De fora vemos melhor o que está a correr mal. Somos todos, treinadores dos governos. Tudo isso é legítimo e até desejável. O problema é que quando entramos num campo para jogar ou quando passamos a ter alguma responsabilidade governativa, parece que “desaprendemos” todos os ensinamentos que transmitíamos da bancada. Por isso, muitos treinadores não se aventuram a deixar a bancada.

domingo, 10 de outubro de 2010

Governo vai perdoar dívidas das bolsas de estudo

A política de bolsa de estudos dos anos 90 era boa,a sua implementação não foi má e,mesmo não existindo um estudo de avaliação,parece-me que os resultados foram globalmente positiva.É claro que existiu erros, como os critérios bastante flexíveis e a existência do denominado "bolsa carenciado" que na prática funcionava como um "saco azul".Concordo com a medida anunciada pelo actual 1º ministro de perdoar as dívidas das bolsas de estudos uma vez que não só seria injusto como não existem condições para o pagamento das bolsa de estudo.Afinal com o seu trabalho,impostos e contribuição para a previdência social,esses antigos bolseiros já estão a retribuir a aposta do país nos seus estudos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A poesia não contribui para o PIB, logo, não deve ser subsidiada?

«"Neste período de recessão, muitas instituições culturais estão preocupadas com as suas fontes de financiamento e utilizam o argumento que devem ser apoiadas porque as indústrias culturais e criativas desempenham um papel relevante na economia, mas essa posição coloca-nos perante uma série de questões", diz Angus Kennedy. Entre elas, o facto de haver sectores da esfera da cultura que nunca farão dinheiro.
"A poesia, por exemplo, nunca poderá contribuir para o PIB de Portugal. Justificar o valor das artes apenas em termos de contribuição económica é estreitar, inclusive, as opções de financiamento." Com a investigação científica, por exemplo, acontece qualquer coisa de semelhante. "Os cientistas não podem dizer "se nos derem tantos euros estaremos em condições de retribuir com o triplo", muito simplesmente, porque ninguém sabe quais serão os resultados das pesquisas a que se propõem."
Para justificar atenção e financiamentos, as narrativas que validam as artes e a cultura assentam, cada vez mais, em factores que lhe são exteriores: têm que ser fonte de sociabilização; ajudar os jovens a serem bons cidadãos; favorecer a participação cívica; alimentar o sentimento de pertença colectiva ou de orgulho social; ou contribuir para a regeneração urbana das cidades, ressuscitando zonas industriais. Mas também há quem rejeite este tipo de justificação instrumental, argumentando que as artes é o que os artistas fazem. Ou seja, que é inteiramente subjectiva».