quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A poesia não contribui para o PIB, logo, não deve ser subsidiada?

«"Neste período de recessão, muitas instituições culturais estão preocupadas com as suas fontes de financiamento e utilizam o argumento que devem ser apoiadas porque as indústrias culturais e criativas desempenham um papel relevante na economia, mas essa posição coloca-nos perante uma série de questões", diz Angus Kennedy. Entre elas, o facto de haver sectores da esfera da cultura que nunca farão dinheiro.
"A poesia, por exemplo, nunca poderá contribuir para o PIB de Portugal. Justificar o valor das artes apenas em termos de contribuição económica é estreitar, inclusive, as opções de financiamento." Com a investigação científica, por exemplo, acontece qualquer coisa de semelhante. "Os cientistas não podem dizer "se nos derem tantos euros estaremos em condições de retribuir com o triplo", muito simplesmente, porque ninguém sabe quais serão os resultados das pesquisas a que se propõem."
Para justificar atenção e financiamentos, as narrativas que validam as artes e a cultura assentam, cada vez mais, em factores que lhe são exteriores: têm que ser fonte de sociabilização; ajudar os jovens a serem bons cidadãos; favorecer a participação cívica; alimentar o sentimento de pertença colectiva ou de orgulho social; ou contribuir para a regeneração urbana das cidades, ressuscitando zonas industriais. Mas também há quem rejeite este tipo de justificação instrumental, argumentando que as artes é o que os artistas fazem. Ou seja, que é inteiramente subjectiva».

Sem comentários: