quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Crescimento sem emprego

Aquilo que torna a situação tão grave é o facto de,numa economia global,nem mesmo um crescimento económico bastante rápido reduzir necessariamente o desemprego de forma substancial.Quando as recuperações começam,fazendo aumentar a procura,e portanto a produção,é possível produzir mais sem contratar mais mão-de-obra.No passado,uma produtividade maior não implicava um aumento do desemprego.Porque há-de implicar hoje?O problema aqui,para um país como Cabo Verde,reside em saber qual o sector da actividade económico irá absorver os anteriores desempregados: agricultura,função pública,serviços?
A razão por que o desemprego estrutural é alta em Cabo Verde é bastante óbvia: escassez de posto de trabalho criado.Ou seja,há muito mais procura do que oferta de emprego (perigosamente,tanto no seio de indivíduos com alta escolaridade como entre aqueles com a escolaridade mais baixa).É por essa razão que a formação profissional,por si só,não é e nem será a solução para o desemprego.Fica a pergunta para época de campanha política: quais as políticas de emprego que o país deve adoptar? Qual é a estratégia de luta contra o desemprego que o MPD defende (a pergunta é directa para o MPD porque,no caso do PAICV,podemos encontrar essa resposta no programa do governo)? O que faria o MPD de diferente do actual governo?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Número de Desemprego

Tenho ouvido e lido um pouco por toda a parte,o pessoal do MPD a defender que a actual taxa de desemprego é de cerca de 22%.Ora,compreenderão a minha estranheza uma vez que,segundo o inquérito ao emprego de 2008,a taxa de desemprego é de 17,8% e,segundo o inquérito ao emprego de 2006,a taxa de desemprego era de 18,3%.Portanto,só me resta perguntar: alguém sabe-me dizer onde o MPD vai/foi buscar os 22% da taxa de desemprego que eles defendem como sendo a verdadeira percentagem do desemprego?

Orçamento 2010

Desemprego elevado (cerca de 18%),dívida incontrolável e défice orçamental excessiva (cerca de 12%).No horizonte,crescimento económico insuficiente.Não são bons tempos para se estar num governo.Ao desemprego estrutural juntou-se àquela decorrente da actual crise económico,o desemprego conjuntural e não se vislumbra uma solução para o desemprego (principalmente quando temos em conta que o desemprego desce muitíssimo mais devagar do que sobe).Percebe-se a utilidade de um orçamento expansionista numa época de crise,é o que ensina os manuais,mas será que o défice orçamental de 12% é preocupante,demonstra que o Estado gasta demais,que está com "excesso de peso" e vive muito acima das suas possibilidades?Nas actuais circunstâncias,um défice orçamental excessivo é normal.Repito,estamos vivendo uma crise de procura e,por isso,deve ser o Estado a estimular a economia através de aumento de investimento público.É a estratégia anti-cíclica:quando o sector privado deixa de investir,provocando o aumento de desemprego e a queda na arrecadaçao de impostos,é ao Estado que cabe estimular a economia.A questão de fundo neste momento passa por saber o que fazer: diminuir as despesas do Estado (alguns terão tendência em defender que deve ser demitidos funcionários públicos,não contratar mais funcionários e congelar o salário na função pública);aumentar os impostos (não se vê quais,uma vez que todas já são altas) ou estimular a economia continuando a aumentar a despesa.Provavelmente teremos de implementar um pouco de cada um dessas medidas para controlar as contas públicas após a retoma económica.Quer queiramos quer não,mais tarde vamos ter de apertar o cinto.Mas também precisamos de deixar de ouvir aqueles que se limitam a repetir que o cenário é negro não conseguindo vislumbrar nenhum caminho.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Maratona do Empreendedorismo 2009

O IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) e o ADEI (Agência de Desenvolvimento Empresarial e Inovação) organizam a partir de hoje até 12 de Dezembro a Maratona do Empreendedorismo para incentivar o empreendedorismo e o auto-emprego no seio da juventude cabo-verdiana.O evento terá lugar em vários centros de formação profissional e em várias universidades no país.À semelhança do que se faz no mundo com a "Semana Global de Empreendedorismo" (a última ocorreu de 16 à 22 de Novembro),apesar de ser insuficiente para um verdadeiro incremento do espírito empreendedor,este tipo de evento é o primeiro passo para fomentar e valorizar a actividade empreendedora e incrementar a criação de novas empresas.Para conseguir que se criem mais empresas,as autoridades precisam convencer as pessoas a criá-las;contudo,uma das dificuldades dos políticos em lidar com o empreendedorismo é que isto não se faz por decreto-lei,faz-se motivando.É essa a motivação dessa maratona do empreendedorismo 2009: motivar os jovens para esta "nova" carreira profissional e criar na sociedade um clima geral favorável ao fenómeno.Esta acção junto dos mais novos é fundamental para alterar,a longo prazo,a imagem negativa que é associada ao empresário na nossa sociedade.

Os Intelectuais e o Liberalismo - Raymond Boudon

"Como se explica que haja tantos mal-entendidos à volta do liberalismo, a doutrina política a que se deve a afirmação da liberdade, da dignidade e da autonomia dos seres humanos, a proclamação dos direitos do homem, a defesa de uma ordem política em que este seja actor consciente das suas condições de vida? Como se explica, então, que tantos intelectuais o rejeitem? Será apenas pela função crítica que cumpre aos intelectuais, função encorajada, aliás, pelo espírito liberal nas sociedades livres e plurais em que o liberalismo triunfou? Será por o liberalismo ser a referência relativamente à qual se definem as posições revolucionárias e reaccionárias?
Esclarecendo os equívocos que hoje se verificam à volta do liberalismo, desmontando os chavões em que assentam as críticas mal informadas que lhe são dirigidas, Raymond Boudon faz uma recapitulação cáustica e pormenorizada das ideias feitas que desde há trinta anos, pelo menos, confundem e viciam o debate político e estão na origem de trágicos efeitos perversos, particularmente nos domínios da política educativa, da política económica ou ainda da política de luta contra a delinquência.Segundo Boudon,parte da explicação para o facto de os intelectuais não gostarem do liberalismo está na massificação do ensino.Na tradição liberal,cabe aos intelectuais procurar a verdade incessantemente.Mas este ideal de busca da verdade,difícil e penoso,está em crise.Num sistema massificado,o que atrai são ideias mais úteis do que verdadeiros.Ou seja,ideias com a função terapêutica de aplacar as nossas penas,que são muitas.Ocorrem-me alguns exemplos: a desconfiança face aos processos democráticos,que tendem sempre a prometer mais do que aquilo que podem resolver;a impotência face aos mecanismos impessoais do mercado que podem gerar,por exemplo,desemprego;a angústia diante de um futuro que é sempre desconhecido.A nossa vida colectiva está cheia de desilusões,inseguranças e incertezas.Este é um facto que todas as pessoas verdadeiramente maduras compreendem e aceitam.Mas é também um terreno fértil para o anti-liberalismo".

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Incentivo ao Empreendedorismo

Existem vários estudos,a nível internacional,que demonstram que os impostos e o sistema fiscal é um dos factores que inibem o empreendedorismo: básicamente muitas pessoas não avançam na concretização da ideia de criar uma empresa devido aos altos impostos e/ou falta de incentivo fiscal.Em vários países,as associações de jovens empresários e vários instituições públicas e ong´s de fomento ao empreendedorismo defendem a implementação de incentivos fiscais como uma das formas de aumentar a taxa de empreendedorismo,argumentando que esse incentivo é nada mais nada menos que o mesmo mecanismo que os países utilizam para atrair investimentos externos.A propostas da isenção do IUR (imposto único sobre o rendimento) durante os primeiros 3 anos de actividade apresentado pela AJEC (associação de jovens empresários cabo-verdianos) vai nesse sentido: os jovens empresários terão 3 anos para provarem que a empresa constituída tem viabilidade e que,por isso,podem contribuir para o desenvolvimento da comunidade e do país,nomeadamente através de novos empregos criado.Nestes 3 anos,a sobrevivência vai depender,em larga medida,das práticas de gestão implementadas.Afinal,mesmo que de quando em vez,a sociedade civil consegue dar algum ar da sua graça.Estão de parabéns quer o governo quer a AJEC: o governo por aceitar incluir no orçamento do Estado de 2010 a proposta e a AJEC por propor a medida.

sábado, 14 de novembro de 2009

Perguntas para o Redy


"Por que é que determinados indivíduos cometem crimes e outros não? Por que é que alguns são classificados como criminosos e outros não? Por que é que os homens tendem a praticar mais o crime do que as mulheres? Quais podem ser as responsabilidades da sociedade perante o criminoso: punir, tratar ou reinserir? Como é que evoluiu a visão social sobre o crime, da Antiguidade aos dias de hoje?Que teorias se desenvolveram no seio da Sociologia para explicar a ocorrência do crime e as codificações do criminoso?"

Combater a "cunha"

Quase todos os dias ouvimos reclamações de amigos e conhecidos sobre a "cunha" no recrutamento de quadros para a função pública.Que A entrou no Ministério do Trabalho porque o pai é do partido no poder,que B não conseguiu entrar como professor na Universidade de Cabo Verde por medo da concorrência da parte dos que lá já estão,que C não ficou na direcção de um organismo público e o D na direcção de uma empresa pública por serem militantes de partidos da oposição,etc etc.Existem ainda outras categorias de reclamações,também elas relacionadas com a gestão de recursos humanos na função pública:o "compadrio" na avaliação do desempenho e,consequentemente,na promoção profissional (a substituição da promoção por antiguidade pela promoção por mérito tem a inconveniência de aumentar as reclamações de favorecimento).Estas reclamações quase que já se tornaram num desporto nacional.Independentemente do partido que esteja no poder,quer seja o MPD quer seja o PAICV,vamos continuar a ouvir sempre as mesmas reclamações.Como é que se resolve isso?Como é que podemos aumentar a transparência.Todos apontam para a necessidade da despartidarização da função pública.Contudo,é preciso ir mais longe e agir na fase do recrutamento e na fase da avaliação do desempenho.Uma das formas é o recrutamento e a avaliação do desempenho serem efectuado por uma empresa privada de recursos humanos ou,em alternativa,criar uma secretaria/organismo com essa função.Assim,ao menos,saberemos quem beneficiou quem.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

"(...) temos licenciados que são incapazes de escrever um parágrafo! (...)" Corsino Tolentino

Precismo ler Bernard Lahire em La Raison Scolaire: École et Pratiques d'Écriture, entre Savoir et Pouvoir.Ele no diz que a "explicação do insucesso escolar deve ser construída a partir da análise dos modos de relação dos alunos com o tipo de linguagem veiculada pela escola. A operatividade do capital cultural das famílias de origem na definição das trajectórias escolares dos alunos depende, em grande parte, das condições de transmissão desse tipo de disposições.Por subentender a reflexão aquando da sua interiorização e accionamento, a linguagem escolar distancia-se da linguagem prática e dos seus modos de enunciação (linguagem gestual, onomatopeias, sentidos implícitos da mensagem transmitida…). Embora o autor admita que as trajectórias escolares dos alunos são influenciadas por factores exteriores ao contexto escolar, defende que o conhecimento sociológico acerca desta questão ganha inteligibilidade se forem analisados os processos de ensino-aprendizagem que se desenrolam nesse mesmo contexto. A escola existe num universo social que necessariamente a estrutura. Mas a compreensão científica da estruturação dos desempenhos dos alunos por factores externos tem de ter em consideração os princípios escolares de produção do sucesso e do insucesso. Neste sentido, Lahire defende a necessidade de se perceber o sucesso/insucesso escolar analisando antropologicamente as formas e lógicas que o potenciam nos quadros de interacção escolares. Neste sentido, um dos desafios que se colocam à Sociologia é descobrir as diferenças sociais que decorrem e emergem deste hiato entre a linguagem prática e a escolar.O autor demonstra que as características dos textos escritos por parte de alunos que frequentam o ensino primário tendem a variar de acordo com a família de origem dos mesmos (pp. 121-123). Por exemplo, os filhos de operários são os que menos expressões valorizadas na escola utilizam, cujos textos apresentam maior número de incoerências temporais, que cometem mais incorrecções na expressão de ideias e na pontuação…"
Terá essa teoria alguma contribuição para a questão da oficialização da língua cabo-verdiana?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Crescimento económico e emprego

É conhecido a clássica "crença" segundo a qual "sem o crescimento económico não é possível resolver o problema do desemprego".Contudo,a maior complexidade do fenómeno pôs a nú a simplicidade dessa ideia.O raciocínio é simples: o crescimento económico,por via do aumento do consumo e de investimentos (e,se possível,da exportação),leva as empresas a fazer mais contratação devido ao incremento da procura.A simplicidade reside aqui: aumenta a procura,logo aumenta a contratação de mão-de-obra para suprir essa procura.Nesta visão,o "crescimento económico" é a variável independente cuja variação provoca efeitos sobre o "emprego",que é a variável dependente.Ou seja,há de facto uma correlação positiva entre o crescimento económico e o emprego.Contudo,o contrário também é verdadeiro;podemos também encontrar uma correlação positiva entre o emprego e o crescimento económico.O "emprego" como variável independente também influência o "crescimento económico" quando esta é tido como variável dependente.O aumento do emprego provoca um aumento na procura e no consumo e,consequentemente,do investimento e do crescimento económico.Portanto,não é apenas o crescimento económico que leva ao aumento do emprego mas esta,o aumento do emprego,também leva ao crescimento económico.Não é uma que influencia a outra;elas influenciam-se mutuamente.É por isso que,no combate ao desemprego,o papel do Estado não pode limitar-se à "criação de ambiente propício ao crescimento económico" e não pode ser deixado tudo ao mercado e às empresas.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Igualdade de Oportinidades e de Resultados

"Tendemos a pensar que se deve ensinar a pescar em vez de oferecer o peixe. O importante é que cada um tenha oportunidade de pescar, embora uns possam obter melhores pescarias do que outros. Mas será que esta disjunção é conceptualmente satisfatória? (...) uma igualdade de oportunidades ao mesmo tempo formal e substantiva é uma forma de "ensinar a pescar" e não de "oferecer o peixe".Mas será que pode existir uma verdadeira igualdade de oportunidades numa sociedade que seja profundamente desigual em termos de rendimento e riqueza?Claro que não. Os mais favorecidos estarão sempre numa posição privilegiada para aceder a mais oportunidades - educativas e outras - para si mesmos e para os seus filhos. Portanto, o aprofundamento da igualdade de oportunidades implica sempre a diminuição da desigualdade social medida pelo índice de Gini. Não basta ensinar a pescar. Para que as oportunidades sejam verdadeiramente iguais é também necessário que não haja uma grande disparidade entre os recursos de que dispõem os diversos pescadores - o peixe que cada um tem à partida e serve de isco, por assim dizer."
João Cardoso Rosas,in Ionline

Salário Mínimo

«"Nos últimos anos, a questão dos impactos do salário mínimo sobre o desempenho económico em sido vastamente debatida entre economistas. De acordo com o modelo neoclássico tradicional, assumindo um mercado de factores perfeitamente concorrencial, o aumento do salário mínimo conduziria a uma redução do emprego dos trabalhadores com salários mais reduzidos. No entanto, sabe-se que num contexto em que os empregadores detêm algum poder para determinar os níveis de salários, contrariamente ao que prevê a teoria tradicional, um aumento do salário mínimo não se reflecte necessariamente na redução do emprego, podendo mesmo, em certas situações, conduzir a um aumento simultâneo dos salários e do emprego. Empiricamente, a generalidade dos estudos que procuraram estimar os impactos de aumentos do salário mínimo (ocorridos em diferentes contextos) sobre o emprego, concluiu que os efeitos eram não significativos ou até ligeiramente positivos". Ricardo Paes Mamede, referências omitidas. Referências a que vale a pena prestar atenção porque reflectem o que pensam muitos economistas que não se renderam à distopia do trabalho como mercadoria.
Isto para não falar da ideia arbitrária de que o combate às desigualdades e à pobreza só se deve fazer por via fiscal. As inevitáveis regras do jogo, que definem o que é uma empresa, e quem é que nela tem poder para se apropriar do quê, nunca são neutras nestas áreas. O salário mínimo é apenas uma boa regra. Combate a pobreza laboral, reduz as desigualdades, aumenta os incentivos para a modernização produtiva e muito mais. Faz parte de um bom multiplicador da igualdade em Portugal. A desigualdade também deve constar da agenda dos economistas. Os seus custos, em termos de eficiência dos processos económicos, podem ser bem elevados, como a última crise aliás demonstra. Isto, claro, exige ter em atenção elementos como a confiança e a sua erosão, a relação entre as regras e as relações de poder, os seus impactos sobre a saúde e a motivação dos trabalhadores. Elementos que devem fazer parte da economia como boa ciência social que supera simplismos (neo)liberais».
João Rodrigues,in Ladrões de Bicicleta.

Kseniya Simonova's Amazing Sand Drawing

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cabo Verde tem Doutores a Mais?

Mas onde está o mal no país ter "doutores" ou licenciados a mais?Que consequências traz para o país e para nossa colectividade esse aumento do número de licenciados?Nada,rigorosamente nada de grave!Eu,pessoalmente,prefiro ter vários taxistas no aeroporto da Praia com canudos de que taxistas com apenas a 4ªa classe.Quem pensa o contrário é porque ainda tem uma ideia utilitarista do diploma universitário.Há já algum tempo que o diploma universitário deixou de ser garantia de alguma coisa a nível profissional.A ter algum significado,ela é simbólica: o diploma universitário é a esperança que algum dia terei a minha oportunidade.O taxista com um diploma,qualquer dia pode transportar um cliente que que,por ser empresário ou alto dirigente,pode oferecer-lhe uma oportunidade duma entrevista de trabalho.O "nosso" erro está em ainda acreditarmos que todos os juristas têm de ser advogados,juízes ou procuradores;que todos os historiadores têm de ser professores ou arquivistas ou que todos os sociólogos têm de trabalhar no sector social (delinquência,pobreza,animação social,etc).Qual é o mal em carpinteiros ou electricistas,enquanto exercem a sua profissão,serem estudantes universitários?O "nosso" problema está na desvalorização social e na falta de prestígio das profissões técnicas.