Importa começar por dizer que,devido a sua natureza interdisciplinar,ainda não existe um consenso ciêntifico entre os investigadores sobre a definição do empreendedorismo;por isso,como é sugerido por W.B.Gartner,cada estudo/investigador deve definir exactamente o significado do termo no seu contexto específico.Isto,para te dizer Paulino,que a minha definição do empreendedorismo «aqui» é entendido como criação de empresas (excluimos o intra-empreendedorismo e o empreendedorismo social).Como sabes não existe estatísticas para aferirmos sobre a real taxa de criação de empresas em CV;apenas temos a percepção que o empreendedorismo é baixa.È baixa devido à motivos históricos-politicas-ideológicas (tudo junto),culturais e,principalmente,institucionais:
1- os motivos históricos-políticos-ideológicos tem a ver com o período do partido único e da ideologia económica veiculada na altura que influênciou e influência sobremaneira o estádio do nosso capitalismo (se considerarmos que existe vários capitalismos) e onde existia inúmeras barreiras a toda e qualquer iniciativa privada;
2- as razões culturais,veiculada através de instrumentos da socializaçao como a familia e a escola,é perceptível nos concelhos que todos os nossos "mais velhos" nos deram desde a primeira classe da escola preparatória:«filho,estuda para um dia seres médico,engenheiro,"doutor"»...mas nunca,nunca ouvimos «filho,estuda para seres empresário e dono do teu destino»...ainda hoje!Essa baixa "cultura empreendedora" que nos caracteriza passa,principalmente,pela escola-educação (nos países onde o empreendedorismo é elevado existe programas de educação para empreendedorismo desde o ensino primário até o universitário) e pela inexistência de modelos de empresários que sejam reconhecidos positivamente pela sociedade e que estimulem réplicas comportamentais (todos admiram o Bill Gates,mas consegues me dar o nome de um empresário criolo que é idolatrado no país todo?);
3-a instituição,que estruturam os incentivos no intercâmbio humano,quer políticos,sociais ou económicos é utilizada aqui de forma ampla para incluir as estruturas políticas,legais,financeiras,lgísticas,educativas e sociais que distinguem uma sociedade.Existe uma relação dinâmica e interaactiva entre o empreendedorismo e as instituições que assenta na existência de "vazios estruturais/institucionais" (Ronald Burt),os quais constituem oportunidades que os empreendedores aproveitam fazendo uso da sua rede de relações sociais.Sendo que são as instituições que determinam a opções disponíveis para a acção,depreende-se facilmente que as instituições em CV não fomentam muito o desenvolvimento do empreendedorismo.
Alguns economistas e os psicologos deram muita importância às caracteríticas individuais no incremento do empreendedorismo (assunção de riscos,capacidade de lidar com a incerteza,antecipação de necessidades futuras,necessidade de sucesso,etç);contudo,actualmente,outros sustentam que esta abordagem fomenta a ideia de que o empreendedorismo é algo de místico e ocasional,apenas ao alcance dos genéticamente favorecidos,o que é contrário ao desenvolvimento do próprio empreendedorismo.Já Schumpter argumentara que o risco é uma característica do negócio e não do empreendedorismo em si,ou seja,o risco e a incerteza fazem parte integrante do mundo empresarial e não dos empreendedores pelo que as decisões são frequentemente tomadas sob informação incompleta ou imperfeita.Aquilo a que chamaste "ímpeto individual e não transmissível de correr risco e de empreender",pode ser ensinada,ou melhor,pode se incutida desde a terna idade através da escola e formação(senão,teríamos de acreditar que o empreendedorismo não pode ser ensinada).Como disse Michael H. Morris,o empreendedorismo não é um acontecimento aleatório nem é inato:é antes determinado pelas condições da envolvente que se manifestam a diferentes níveis.
Para terminar,Paulino,não basta ao 1º Ministro e outros politicos fazerem discursos enaltecendo a importância do empreendedorismo para a desenvolver (atenção que esse tipo de discurso tem a sua importância);precisamos de mudar e melhorar as condições da nossa envolvente através da criação de um sistema nacional do empreendedorismo (no fundo,organizar as instituições a que te refiristes como o micro-crédito,o sistema financeiro e criar ou dar condições para que surjam outras como empresas de capital de risco,a figura de business angels, incubadoras,ninhos de empresa,fomação profissional-educação,entre outros).
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