No tempo da monarquia constitucional, os governos não caíam por pressão popular. Saíam do poder por cansaço. Os caciques locais mudavam de partido e, com isto, a anterior oposição ganhava a sua saudável maioria. Até que chegasse o momento de esta se sentir exausta e se arrastar até ao monarca a pedir a marcação de novas eleições.
Na Inglaterra, a ironia baptizou quem estava fora do poder como "leal oposição": era-se opositor, mas não se pressionava demasiado. Hoje não é assim. Nenhum partido no seu perfeito juízo diz que está cansado de governar, mesmo quando S. Pedro envia chuva financeira contínua e esta se transforma em dilúvio. Mas, em Cabo Verde, assiste-se neste momento a uma coisa curiosa. Não é o Governo que mostra estar cansado de exercer o poder. É, absurdamente, a oposição que parece estar demasiado cansada para fazer a sua leal função de tentar ser alternativa ao Governo. Conforme se depreende no discurso de Jorge Santos no "A semana", o MPD já parece cansado antes de ir para eleições: ao invés de investimentos de "duvidosa rentabilidade" o MPD,quando for governo,irá dar prioridade às PME,mas não diz como se concretizar essa prioridade e nem aprensentam medidas que ajudem ao governo a "rivitalizar" esse sector ("o segredo é alma do negócio"?);contra a asfixia fiscal,pretendem baixar os impostos sem dizer qual seria o impacto dessa baixa de imposto ou como pensam compensar essa perda de receita;para terminar,para vincar a sua costela liberal da direita,pretendem combater o défice com "redução gradual das funções do Estado, transferindo para a iniciativa privada e social, serviços, actividades e funções que não devem estar no Estado" sem mencionar quais os serviços do Estado que pensam transferir para o sector privado. Se não tivesse lido e ouvido,tenderia a pensar que esse discurso foi escrito para um trabalho de "introduçao à economia" do 12º ano.Compreende-se que a política económica do MPD não seja muito diferente da de José Maria Neves; a principal diferença é a eficácia deste.Mas o que surpreende é que o Governo, neste momento, esforça-se por parecer activo. E a busca de investimentos externos mostra isso. Só que, perante tudo o resto, o MPD está inerte. Como se tivesse feito uma maratona e o seu líder estivesse esgotado. De forças e de ideias. O MPD, neste momento, é a leal e cansada oposição de José Maria Neves.
2 comentários:
Nem mais Edy! E, tens sorte, porque tu (se não interpretei mal) estás a viver fora do país.
Se estivesses cá, estarias desesperado com a falta de oposição que temos em Cabo Verde.
É sempre importante ter uma oposição que saiba fazer "oposição" e pressão ao Governo.
Esta que temos é uma autêntica txokota.
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Viva Salim,
tens razão,estou em Lisboa...mas digo-te,mesmo estando fora acredito que o desespero é o mesmo.Fica-se com a sensação de que o MPD está apenas a aquecer as cadeiras do parlamento a espera que o POVO canse do governo para chegarem ao poder.È isso que desespera e,muitas vezes,apetece gritar a celébre resposta duma ex-ministra em portugal a um deputado da oposição: "o senhor não merece o salário que ganha!!
Abraço
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