segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conversas em Dia- Os partidos políticos e as campanhas

Tenho de começar por dizer que,no essencial,o Redy tem alguma razão nas críticas que faz às intervenções dos convidados (e o Underdlôgas também,no comentário ao post do Redy).É que viu-se claramente que os convidados não eram especialistas e que,mais do que esclarecer alguma coisa,ficaram por lugares-comum.O Nardi, ao tentar fazer uma análise baseado no conceito de campo de Bourdieu,trazendo para o debate a relação entre campo cultural e o campo político,para além de "trocar" o campo artístico pelo campo cultural,deveria antes estabelecer a relação entre o campo mediático e o campo político (fenómeno mundial com impacto muito mais forte lá fora do que em CV).Analisar o comportamento dos partidos durante as campanhas eleitorais passa obrigatoriamente pela relação entre os partidos e os media (tv, jornais, publicidade, rádios, internet, redes sociais) e, isto, não foi feito nesse debate. A nossa televisão deveria começar a convidar especialistas ou profissionais da área,conforme o assunto,para os programas de debates e entrevistas: assim,para este último debate,deveriam participar,pelo menos, um politólogo (cientista política/sociologia política) e um especialista em marketing político/comunicação política ou em sondagem político.Ou mesmo uma prata da casa: a Margarida Fontes tem feito análises interessantes sobre a relação entre os partidos e a comunicação social em CV no seu blog.Por outro lado,alguns "intelectuais" deveriam ter alguma humildade para recusar "aparecer". Não deixa de ser paradoxal o Nardi ter defendido nesse debate que os "intelectuais em CV deveriam perder o medo de aparecer nos debates". É que «ser visto»,por si só,não é garantia de legitimidade cientifica;pelo contrário,aparecer em tudo o que seja debate leva a que se sejam confundidos  com os "fast thinkers",como Bourdieu os chamou.No fundo,o que temos assistido nesses debates e entrevistas na nossa TV é o que já aconteceu há mais tempos lá fora (como sempre,o fenómenos dos países desenvolvidos chegam a CV com algum atraso): o triunfo dos fast thinkers! 

5 comentários:

Anónimo disse...

O problema é que se continua a confundir alguém que tem um curso superior qualquer que seja com um intelectual! Ora, em CV ha também a ideia de que o dito intelectual, que nao é, tem de ser politico, escritor, enfim uma data de coisas!

Quanto à comparaçao que tu fazes dos fast thinkers do Bourdieu com os nossos, acho que ha um exagero; ha que contextualizar as coisas porque as coisas nao podem ser comparadas ou entao com as devidas relativizaçoes.

E' que no caso de Bourdieu, o contexto era puramente uma guerra politica e um ciumes que ele tinha em relaçao a verdadeiros intelectuais e pensadores em França o que nao é o caso em CV. Esses cultores do fast thinking do Bourdieu, ocupavam todo o espaço televisivo e mediatico o que retirava algum espaço ao Bourdieu, que estava numa fase de querer fazer politica, numa fase em que ele estava a ser mais militante do que sociologo.

Ja agora, temos a mania de citar classicos para dar consistência ao nosso pensamento e passando a imagem de que eles sao uns deuses que nao erraram e que o que escreveram é Biblia, palavra de Deus. Ora bem, isso nao é verdade e no caso do Bourdieu, nomeamente neste caso dos f.th. ele meteu muita agua.

Esses tais fast th. sao grandes intelectuais com formaçao em filosofia, jornalismo, ciências politicas e pertencentes à nata da elite das melhroes escolas francesas, e enfim na altura da critica bourdiena ja tinham entre 50 e 65 anos; logo nao eram putos. E para terminar, muitos deles ainda estao no activo, enquanto Bourdieu, ja morreu e as suas teorias nao resolveram nada e nem mudaram nada na esfera politica e mediatica! Alias neste aspectos as suas teorias foram um autêntico fracasso.

No caso de CV, esses tais fast thinkers, sao na maioria gente que nao tem a bagagem intelectual que os franceses criticados por Bourdieu têm. Talvez o antropologo, mas neste capitulo ele estava fora do tal campo, e o curioso é que ele conhece até as ferramentas culturais, sociais e politicas, sem ser politologo ou sociologo; mas um antropologo sem que seja necessariamente um politologo tem competência também na matéria. Mas mesmo assim ele foi timido!

Anónimo disse...

Continuemos a reflectir. Eu sou um homem de reflexao; as minhas criticas nao têm nada a ver com o criticar popular crioulo. Eu penso, eu reflicto e estou-me nas tintas se este ou aquele gosta ou nao gosta!

A intençao de Edy, é louvavel! Ele queria criticar e com razao esses nossos faladores que vao à radio e televisao falar de tudo e sobre tudo sem terem a bagagem requerida.

So que o exemplo que Edy foi buscar nao é o melhor e é até caricato. MaS Edy nao sabe! Exactamente, Bourdieu so teria razao se ele estivesse a falar dos nossos intelectuais impreparados. Mas como eu disse no anterior post, as criticas de Bourdieu têm a ver com ciumes, megalomanias e outras vaidades do francês médio.

E' que Edy nao sabe, mas Bourdieu, era um homem megalómano e no sultimos anos da sua vida ficou mais militante do que filosofo e cientista social. Ele queria ser politico; chegou-se mesmo a falar a uma data altura que ele poderia ser candidato às eleiçoes presidenciais, porque sendo homem de esquerda achava que o programa socialista de Jospin nao era um programa de esquerda.

Mas falemos das suas criticas como sociologo de comunicaçao, criticas que ele fez nao a pseudo-intelectuais sem preparaçao intelectual, mas a verdadeiros pensadores.

O Edy nao sabe, mas por exemplo uma das pessoas que Bourdieu chamou de fast thinker, é por exemplo um dos maiores filosofos da actualidade francesa, Fienkelkraut. Ele chamou também a um dos fundador da Nova filosofia francesa, Bernard Lévy, que é um dos grandes filosofos fracenses; idem para Jean François Kahn, filosofo e jornalista, director de grandes jornais e revistas franceses.

Enfim, foi a essa gente altamente formada, que faz parte da fina flor da intelectualidade francesa, que Bourdieu chamou fast thinker. Mas isto Edy nao sabe. Portanto é ridicula a critica de Bourdieu.

Mas o mais grave é que ele inventou esse conceito de fast thinker, com base em mentiras, induzindo assim em erro varios estudantes do mundo inteiro que estudam a sua obra e depois repercutem-na pensando que estao a dizer uma grande verdade objectiva.

Se quero desmontar isso, é porque tenho reparado que os estudaantes de sociologia em Portugal e Brasil, logo Cabio Verde, estudam de maneira idolatrica a obra de Bourdieu. Mas a obra burdiana està cheia de mentiras e manipulaçoes.

Conclusao: às vezes uma boa intençao, como essa de Edy, acaba por fazer um mau trabalho. Ou pior, se a mentira nao é desmontada, fica-se a pensar durante anos e anos que se estudou uma grande obra.

Mas e porque é que Bourdieu fez estas criticas a grandes pensadlores e editorialistas de grandes jornais?. Minha gente por puro egoismo e ciumes. Bourdieu, na altura em que escreveu esse cézlebre artigo depois transformado em livro, sentia-se marginalizado na sua Unviersidade, nao sendo convidado pelas televisoes, que preferiam convidar os nomes citados, que diga-se de passagem assaltaram todos os meios de comunicaçao. Até hoje, continuam na linha da frente.

Mas a verdade é que essa gente até que sabe! Nao sao intlectuais que vao à televisao dizer banalidades. E' gente que tem uma mente preparada e habituada a falar de improviso porque educada assim, logo pode reagir instantaneamente a qualquer assunto da actualidade internacional.

Nao é a mesma coisa com a nossa gente, que nao tem a mesma preparaçao intelcgtual e que nao està habituada a falar e a raciocionar de maneira veloz na lingua do antigo colono. E em crioulo que muitos falam no dia a dia, nao é possivel porque os conceitos livrescos e intelectuais foram aprendidos em português e ainda nao foram adaptados ao crioulo.


Entao, Edy, estàs a ver o nosso dilema?!

Anónimo disse...

So mais um pormenor Edy! Tu nao sabes, mas os franceses gostam de dizer que a França é o unico país que dá filosofia no liceu. E podes desmentir um frances dez vezes com provas, que 5 anos depois quando te encontrar voltará a dizer-te a mesma bazófia. E' cultural; " assim e nao ha nada a fazer. E' como as nossas bazofarias de crioulo.

Isto para te dizer, que temos que praticar sempre a duvida. E reparas que recorro a conceito filosofico francês: duvida! Sim, aqui Descartes tinha razao, ha que duvidar sempre de tudo. Duvidar, quer dizer ir investigar ir arranjar provas daquilo que se diz aqui e ali. Quem tem razao? Quem se aproxima mais da obejevidade?

Mas voltando rapidamente à historia da filosofia no liceu. Quando ouvi essa anedota pela primeira vez, segunda e terceir vez etc, ja chateado eu tive que dizer aos meus interlcoutores francdeses, "mas caramba, eu sou do tempo em que dei filosofia no liceu 2 anos, e ja tinha acontecido a mesma coisa com os meus irmaos mais velhos e com o meu pai, tios etc e tal!

E sempre foi assim em Portugal! E' claro que os meus interlocutores ficavam a ver para mim como se eu fosse um mentiroso impeninente ou fosse doido, pensando que nao era possivel que Portugal, pais mais atrasado tivesse dois anos de filosofia no liceu e a França, pátria da Filosofia, ter apenas 1 ano de filosofia no liceu.

Impensavel, mentira! So que gozando com os meus interlocutores, eu dizia e mais: aqui falei do meu tempo; é que se vos falo do tempo do meu filho, agora sao 3 anos, pois o meu filho deu filosofia no liceu no 10°,11° e 12° ano.

Pois é Edy, enquanto isto, até" o dia de hoje so ha filosofia no liceu em França no ultimo ano, quer dizer 12° ano. So hoje, se està a falar numa reforma do ensino que prevê ja para o proximo ano, se for adoptada, que se passe a ter 2 anos de filosofia no liceu, quer dizer no 11° e 12° anos, porque segundo se diz agora, um aluno aprende a ter um raciocinio consistente e bem pensado se começar a ler textos de filosofia mais cedo, quer dizer com 14 e 15 anos.

Conclusao: saber duvidar, como forma de se atingir a razao; saber tratar textos, analisar textos, argumentar, comunicar. E' o que a nossa gente, ainda mesmo tendo 3 anos de filosofia no Liceu. Aqui a problema fica mais bicudo. Porquê? Porque também é verdade que ha que saber falar, ha que conhecer a lingua em que se raciocina....

Anónimo disse...

a FRASE quase a terminar tem de estar na negativa;

Assim:

E' o que a nossa gente, ainda NAO SABE, mesmo tendo 3 anos de filosofia no Liceu....

Edy disse...

Tens razão Al Binda,
não fazia ideia desses pormenores sobre os "fast thinkers" que Bourdieu tinha como alvo...de qualquer maneira,a minha intenção era só mesmo aproveitar o termo e não pretender que o autor do termo tinha ou não razão...acho que já te disse aqui uma ou duas vezes que sou mais leitor ou "pró" sociólogos anglo-saxónicos que que anglófonos ou latinos;ou seja,Bourdieu,que tem muitas ideias e conceitos que são uteis e aproveitáveis para a sociologia,não é uma das minhas leituras predilectas...muito pelo contrário...não sei se acompanhaste uma polémica entre Bourdieu e Giddens por causa das respectivas teorias sociológicas:entre os dois,sou mais Giddens que Bourdieu..suponho que tu és mais R. Boudon...no entanto,hoje em dia,prefiro o Ronald Burt ou o Mark Granovetter,especialistas em sociologia económica,menos dado às questões de "luta de classes"...