sábado, 6 de agosto de 2011

Livro

Música e Poder - Para uma Sociologia da Ausência da Música Portuguesa no Contexto Europeu


António Pinho Vargas

"Esta investigação aponta para dois factores decisivos na produção de uma imagem de ausência da música portuguesa erudita, tanto histórica como actual, na vida musical europeia. O primeiro resulta da formação do cânone musical no século XIX, da sua crescente supremacia durante o século XX e dos dispositivos de poder localizados nos países centrais que regulam e, por isso, excluem, em grande escala, os diversos produtos culturais provenientes das periferias europeias de acordo com os seus interesses e com as suas visões do mundo. Estas exclusões podem assumir as formas discursivas de considerações estéticas ou juízos de valor, proferidas a partir dos locais de enunciação onde se localizam os centros dos cânones, histórico ou contemporâneo, mas resultam principalmente de um grande desinteresse e desconhecimento e por isso, a maior parte das vezes, estas exclusões traduzem-se pelo silêncio.
O segundo factor resulta da incapacidade de instalar uma política ou uma prática de trocas culturais em condições de igualdade por parte dos agentes e responsáveis culturais portugueses que, no essencial, aceitam os mesmos valores, vistos como universais, e actuam em função dos mecanismos de poder que declaram a subalternidade, contribuindo desse modo para a própria inexistência simbólica no interior do país".


Nos anos 80, os músicos que viviam em Portugal viam Emmanuel Nunes como um exemplo de reconhecimento internacional. Mas, ao sair do país, reparei que fora de Paris ninguém conhecia Nunes. Há um artigo do José-Augusto França que fala da "mais-valia geo-artística" e que diz: "Se eu, como crítico de um país periférico, disser que tenho um pintor lá em Portugal tão bom como aqueles que eles estão a mostrar em Paris ou em Londres, por princípio ninguém me acreditará". Um dos conceitos principais da minha tese é a localização, ou seja, o lugar de enunciação. Cada país tem uma agenda específica. O que se toca em Londres não é Philippe Manoury e em Paris não se ouve música dos ingleses, a não ser talvez Thomas Adès ou dos que passaram pelo IRCAM. O centro nem sequer é monolítico. A Europa só é una para o olhar do periférico. Quando se diz "a cultura portuguesa não é reconhecida lá fora", pressupõe-se que o lá fora é tudo. Não é tudo, é Paris e alguns arredores
".


A tese que deu origem ao livro pode ser encontrado aqui.

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