segunda-feira, 14 de março de 2011

Dimokransa

Os conselheiros da Comissão Nacional do PAICV decidiram, por voto maioritário, que o partido deve apoiar o candidato presidencial Manuel Inocêncio Sousa. Independentemente da qualidade de cada um dos pretendentes ao apoio desse partido, o processo da escolha não foi a melhor. Sinal disso é a reacção dos militantes e simpatizantes do partido que apoiavam o Aristides Lima e o David H. Almada: tanto de um lado como de outro, apelam a candidatura dos dois mesmo sem apoio partidário. Para que não houvesse margem para críticas de falta de democracia interna, para que mesmo os candidatos derrotados fossem dissuadidos a se candidatarem sem apoio partidário, deveria ter sido os militantes a escolher o candidato a apoiar e não a Comissão Nacional. É que a maioria dos conselheiros não representa a maioria dos militantes e, ao contrário do que aconteceu no caso do MPD, existe uma grande distribuição de militantes apoiantes de cada um dos pré-candidatos no seio do partido. Era preciso uma espécie de primária a nível interno. O problema aqui não é, nem de longe nem de perto, o candidato escolhido ou os preteridos mas sim a lógica de funcionamento interno do partido ou, se quisermos, a lógica da mobilidade hierárquica nos partidos. A forma como ocorreu o processo e, principalmente, o resultado final vem confirmar a ideia de que o partido está completamente dominado pela ala de José Maria Neves e que as outras sensibilidades pouca influência têm na distribuição interna do poder e nas decisões do partido. É essa sensibilidade interna que controla tudo, escolhe as pessoas e impõe unilateralmente a sua estratégia. Claramente, o partido controla e faz tudo para controlar as posições e o comportamento dos militantes. Foi exactamente isso que vimos acontecer no MPD em finais dos anos 90, com os resultados que todos conhecemos: quando, em qualquer tipo de organização mas principalmente numa organização partidária, as coisas acontecem dessa forma é o partido que acaba por pagar a factura. Definitivamente, o PAICV, enquanto organização do sistema democrático,  precisa de mais democracia interna. Os políticos precisam promover mudanças no sistema eleitoral capaz de obrigar os partidos a mudar internamente. O mais urgente não é tanto a reforma do sistema eleitoral e nem do sistema político; o urgente é a reforma dos partidos políticos.

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