quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Tacho e Biscates


"(...) se você fizer uma sondagem junto a jovens universitários americanos, 95% almeja desenvolver o seu próprio negócio, quer criar a sua empresa, quer construir a sua própria oportunidade. Se fizermos uma sondagem aqui em Cabo Verde, 95% quer entrar no Estado."
José Maria Neves, A Semana, 10/10/08

João é um jovem recém licenciado em Engenharia Civil com um projecto de construção de habitação para o segmento de jovens em inicio de vida profissional cuja experiência profissional resume-se ao estágio obrigatória da licenciatura.Ao contrário daquele,o Nuno é outro jovem com o curso profissional em Informática e experiência profissional na area suficiente para ter ambição de abrir a sua empresa de prestação de serviços informáticos em várias vertentes.Tanto o Nuno como o João,querem abrir a sua empresa e empregar outros jovens qualificados mas os dois não conseguem arrancar com o projecto.O João,como durante a sua formação escolar até terminar a licenciatura não teve nenhuma disciplina onde podia aprender a fazer um plano de negócios, teve dificuldades a fazer o plano de negócios para o seu projecto de empresa uma vez que não conseguiu ajuda nem de conhecidos nem de nenhuma instituição pública de apoio ao empresariado. O Nuno,teve de recorrer a ajuda de uma amiga economista para fazer o seu plano de negócios uma vez que não existe,no IEFP ou escolas profissionais,nenhum curso de curta duração em plano de negócios ou empreendedorismo.Com os respectivos plano de negócios na pasta,surgiu a necessidade de recorrer à financiamento; nem um nem outro tinha capital próprio ou famíliares com possibilidade de emprestar o capital necessário para o arranque da empresa e,tanto um como outro,não tinham capacidade e esperanças de obter financiamento bancário ou da única empresa de capital de risco do país (a promotora).Que falta faz uma empresa pública de capital de risco com a finalidade de,mediante concurso e qualidade do projecto,entrar com capital para o arranque das empresas dos jovens empreendedores e ajudar na gestão até essas empresas atingirem a maturidade no mercado,devem ter pensado.O João não teve alternativa senão meter o projecto na gaveta à espera de melhor sorte e agarrar ao tacho arranjado por um tio,trabalhando como assessor do Director Geral das Obras Públicas.Por sua vez,o Nuno,atravês da sua extensa rede social de contacto adquirida com a experiência profissional,foi "chutando" a vida para frente fazendo biscates construindo um site aqui e concertando um portátil ali e,contra a sua vontade,sem declarar rendimentos e sem pagar impostos.Afinal,não conseguiu acesso a uma incubadora de empresa para instalar a sua empresa (podendo pagar pela renda,deste modo, menos do que pagaria se fosse alugar uma instalação no mercado) e nem teria capaciade incial para suportar a mesma carga fiscal que uma empresa que já está a 15 anos no mercado.Tanto João como o Nuno não reclamam do governo um emprego;reclam apenas um programa nacional de empreendedorismo jovem e uma melhoria do enquadramento institucional do empreendedorismo (através de leis que facilitam a envolvente empresarial;através da criação de um escalão fiscal  e taxa de segurança social "amigos" do jovem empreendedor,através de uma agência que ajuda os empreendedores no financiamento,formação,acompanhamento e gestão da empresa recém criada).

PS: 1- o João e o Nuno são personagens ficcionais;portanto,como se costuma dizer,qualquer semelhanças com a realidade é pura coincidência;
     2- o nosso 1º Ministro exagerou nas percentagens dos jovens cuja ambição é trabalhar na função pública e também exagerou na percentagem dos jovens dos EUA que pensam criar a própria empresa.Apesar de ser verdadeiro o cenário que apresentou,ficaria muito mais satisfeito com 1º ministro se ele,mais do constatar o facto,apresentasse ideias ou projectos para alterar o cenário.

2 comentários:

Redy Wilson Lima disse...

Edy, o nosso PM é um reverendo à moda da IURD, fala que se farta, convence como ninguêm, mas não passa dali.
A questão é: se ele reconhece esse cenário (que é bem verdadeira), porque é não (como defendes e bem) abre um departamento de não sei o quê (não me venham com loja do cidadão) para incentivar e apoiar os jovens empreendedores e arranja um esquema de reduzir o pessoal da função pública, começando a cortar nos assessores e os meninos do partido?
Mas, a culpa é tb da sociedade civil. A uni. J. Piaget tem uma verba (menos de 500.000$00) que todos os anos se destina a jovens empreendedores. Tens um projecto, concorres e depois é avaliado e caso ganhes o dinheiro é teu e a univ. te protege nos primeiros anos. Ok. No ano passado ouve projectos interessantes e alguns ousados. À boa moda berdiana, os projectos mais ousados foram postas de lado e segundo consta quem ganhou foi uma pastelaria. Não tenho nada contra pastelarias, mas a moral da história é: os velhos tem medo que a nova geração, com as suas ideias criativas não os ultrapasse. O que o PM esqueceu-se de dizer foi que 95% dos velhinhos (como ele) tem medo que a criatividade dos jovens os faça perder o cargo da função pública.

Edy disse...

Redy,
o cenário é mesmo verdadeiro.Mas,os jovens querem todos ser empregado do Estado simplesmente porque não há alternativa.Não tenho a certeza,mas parece que não existe nenhum programa de incentivo ao empreendedorismo jovem.Um programa desses serviria como forma de combater o desemprego entre os jovens.Ou seja,é preciso Politicas Públicas consequentes nessa área.Basta de discursos redondos..os jovens têm de exigir mais dos politicos.E "cadé" a voz das jotas nesse sector?Não se ouve nada...Existem muitas oportunidades para ser explorados em CV,mas,para além de não terem ajudas,parece que os nossos dirigentes não confiam na capacidades dos jovens.