quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Política sem ideologia-por João Cardoso Rosas

"(...) Mas por que razão são os nossos principais partidos tão avessos a uma definição ideológica mínima, pelo menos idêntica àquela que têm os partidos congéneres na Europa? Talvez a explicação resida no facto de os partidos portugueses não serem muito diferentes dos portugueses.Uma das consequências da nossa política sem ideologia é que ela impede os grandes partidos de discutirem seja o que for de relevante: que tipo de sociedade queremos para o pós--crise; como pretendemos que seja a relação entre o Estado e a sociedade civil; que Estado social desejamos; como nos posicionamos quanto à imigração ou à discriminação de minorias; qual a nossa visão dos dilemas bioéticos, etc. Em vez disso, as questões centrais da política portuguesa são do tipo: a realização ou não de obras públicas, a intervenção nos bancos fraudulentos, os apoios às PME, e outras coisas do género. O problema é que mesmo estas questões, que têm uma elevada componente técnica, são também políticas e só podem ser devidamente esclarecidas se formos capazes de responder às questões anteriores, respeitantes ao tipo de sociedade em que queremos viver.Apesar desta evidência, muitos dos nossos comentadores e agentes políticos - incluindo o mais alto magistrado da nação - pregam a irrelevância do pluralismo ideológico, ou consideram-no uma "distracção" face aos problemas do país. Não vêem que a ocultação, ou mesmo a neutralização, do posicionamento ideológico dos principais partidos acaba por bloquear uma discussão séria desses mesmos problemas e por esvaziar de sentido o processo político democrático. E são os mesmos que vêm depois verberar a abstenção dos eleitores e verter lágrimas pelo decréscimo da qualidade da nossa democracia".

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