sexta-feira, 29 de julho de 2011

Conflito de Interesse?

"O jornal noticia que o economista e consultor Franz Tavares vai substituir Florentino Cardoso na Agência de Desenvolvimento Empresarial e Inovação (ADEI) em Agosto próximo".


A ser verdade,corremos o risco de estar perante um caso de conflito de interesse.É que,segundo informação pública,a pessoa nomeada para dirigir a ADEI é um dos fundadores e dirigentes da empresas de consultoria empresarial,a Inove,que está precisamente numa das áreas de actuação da ADEI.Não vai haver risco de encaminhar "clientes" da ADEI para empresas privadas de consultoria empresarial?
Imaginemos que,por exemplo,o Jorge Carlos Fonseca seja "convidado" para ser o reitor da UniCV,ele que é um dos fundadores e accionista da empresa detentora do Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais (ISCJS); ou que,o dono ou fundador da Tiver,Rui Pereira,seja "convidado" para ser presidente da RTC.Muitos gritariam "aqui del rei"!

Estado da Nação

“A mais formidável realidade do Estado da Nação é a demanda da qualidade pelas cabo-verdianas e cabo-verdianos”. José Maria Neves


Poesia de um poeta!Talvez,só como hipótese,o país não consegue crescer mais do que cresce porque,de debate da nação em debate da nação,o governo ou o 1º ministro "arranja" uma prioridade nova para o país.Já foi a infraestruturação,já foi os clusters,passamos pela economia do mar,pelo empreendedorismo e inovação,pelos hubs,etc.Nem é preciso mencionar o turismo.Antes que o diabo esfregue os olhos,agora é a qualidade!O governo,desta vez,quer que Cabo Verde seja uma «Marca de Qualidade».Provavelmente,a ideia vai no sentido de desenvolver um turismo de qualidade,uma pesca de qualidade,serviços de qualidade,etc,etc.Não tenho rigorosamente nada contra essa ideia,mas...não creio que essa nova marca vá mudar ou melhorar alguma coisa.Em primeiro lugar,a qualidade não é e nem deve ser uma preocupação do governo mas sim das empresas e dos serviços públicos - são os empresários e os dirigentes da função pública quem têm de se preocupar em fornecer produtos e serviços de qualidade aos clientes e utentes com o objectivo de garantir a satisfação do cliente/utente;em segundo lugar,o governo deveria preocupar-se com politicas,medidas e ideias que criam emprego.A qualidade não é nenhum desígnio digno desse nome!Que medidas já foram implementadas e quais tem sido o impacto no que diz respeito,por ex., aos clusters,empreendedorismo e inovação ou hubs?Antes de sabermos o desenvolvimento desses desígnios/metas vamos passar para um novo desígnio nacional?Não há por aí nenhum político que tenha apenas 1 único desígnio e a respectiva estratégia de implementação para um mandato em vez de 1 desígnio por ano?Os desígnios da nação,concordando ou não com elas,têm de sair de papel e ser implementadas e,para isso acontecer,há que escolher poucos objectivos realistas e não várias que só leva a dispersão.O país precisa de um governo com foco em poucos desígnios e concentrado nas estratégias de implementação das medidas necessárias para concretizar esses desígnios ou objectivos.

Debate Presidencial

Como na anterior,o último debate televisivo de nada serviu para quem ainda não tem o "seu" candidato.Acredito que,quem conseguiu escolher um claro vencedor,este que esteve melhor ou aquele que esteve menos bem,nada mais fez do que confirmar a escolha previamente efectuada.Não há nenhum critério objectivo para determinarmos o vencedor ou o vencido.É quem deu mais ou menos «gaffes»?É quem mostrou que domina,pelo menos,lições de Introdução ao Direito?É quem esteve mais ou menos nervoso?É quem é mais ou menos telegênico?Nada disto é rigoroso e só importam para confirmar ou infirmar as nossas expectativas e/ou percepções.A psicologia social (nomeadamente a teoria de atribuição social) explica isso:se a pessoa A tiver tido um comportamento de carácter positivo e o percipiente gostar de A,interpreta o seu comportamento em consonância com a imagem positiva;se,pelo contrário,A tiver tido um comportamento de carácter negativo e o percipiente não gostar de B,a sua apreciação será negativa.O conflito surge se A teve um comportamento negativo e o percipiente gosta dele ou se A teve um comportamento positivo e o percipiente não gosta dele.Nestes casos pode-se dar uma reavaliação de toda a configuração de estimulação por forma a torná-la semelhante às outras cognições.Ou seja,escolhemos como vencedor do debate àquele que já era o candidato que apoiamos ou aquele de quem gostamos.Do resto,o debate resumiu-se ao "sou assim ou assado","vou fazer isto ou aquilo",etc,etc.Talvez,no fundo,uma campanha para as presidenciais,num sistema político como o nosso,não pode passar disto:uma luta para "passar" a melhor impressão possível quanto a personalidade de um candidato!E,sendo assim,o eleitor escolhe aquele cuja personalidade gosta mais.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sistema Nacional do Ensino Superior em CV



Uma década de ensino superior em Cabo-Verde,cerca de 9 instituições de ensino superior (entre universidades e institutos superior),inúmeras fragilidades (corpo docente,qualidade do ensino e limitações de ordem financeira) e grandes desafios para a frente.Os especialistas dividem o desenvolvimento histórico do ensino superior em 3 estágios: a 1ª missão era apenas o ensino/educação;a 2ª missão foi a investigação cientifica e,por fim,a 3ª missão é o desenvolvimento económico e social.Em Cabo Verde,o sistema nacional do ensino superior ainda está a desenvolver a 1ª missão histórica das universidades,o que não deixa de ser ilustrativo do nosso "atraso": a preocupação principal é ainda apenas "transmitir conhecimento".Por outro lado,o "mercado" não justifica o número de instituições,pelo que,um dos caminhos do futuro será a fusão entre alguns dessas instituições.De qualquer forma,o desenvolvimento do sistema nacional do ensino superior é um processo e,como tal,o tempo vai nos fazer passar por aquilo que os especialistas denominam de 1ª e 2ª revolução académica.Mesmo que com algum atraso!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Quando o telefone toca!

Será que ainda existe o programa «quando o telefona toca» da Rádio Nacional?
Por estas alturas de campanha,comícios, promessas e eleições,depois de ouvir e ler quase tudo e todos,só me apetece sentar no sofá a ouvir o inigualável Norberto Tavares:


"Na nha juiz é mi ki ta manda
nem ki bu kre trokam el bu ka podi
maram pé,maram mó,maram boka
bu ka podi maram pensamento


sima rato bu ta mordi bu ta sopra
sima kamalion, bu tem kor di ambienti
bó e kursadu na inganu
na ta n´goda bu ta txupa tutuno
ma bu ka nganam nem nha tripa,nem nha bofi-bofi
ki fari nha miolu


hoji em dia,konbersu fiadu
ka ta-ah kumpradu!
hoji em dia di mintira bem kontadu
ta disma-mas-karado


ku politika ki ta jera kritika
ku mito ki ta poi konflito
na Nason
ku dimokrasia 
xeio di burokrasia
so pabia da aristrokasia
na Nason
Ku ekonomia xeio di otopia
so pabia di vida algen*
na Nason


ku munti riligion ta usa seduson
ta fasi divison
mas confuson 
na Nason"




* não consigo entender a palavra, portanto,pode ser outra em vez de "algen"...vamos lá cantarolar a música...é ou não apropriada para o momento?

Incentivo com efeito no empreendedorismo

Um grupo de três jovens,após o fim da formação profissional,criam a sua empresa,a MTI- Manutenção,Tecnologia e Informação, provavelmente sem contar com o tal isenção fiscal aos jovens empresários.A isenção fiscal faz sentido se quisermos diminuir os custos dessas empresas com as obrigações perante a sociedade,mas é discutível o seu impacto na criação de novas empresas.Uma medida de maior alcance é,sem dúvida,o Estado ou instituições públicas utilizar a «compra pública» para contratualizar serviços dessas novas empresas.Foi o que fez a Câmara Municipal da Praia (CMP),talvez o primeiro cliente da MTI. A CMP, no âmbito do projecto "Novu Rostu", cuja ambição é dar mais cor à cidade, contratou a empresa para começar a implementação do projecto na zona de “Lém Ferreira”. Valeu mais a empresa contar com a CMP como cliente do que contar com a isenção fiscal.Num país como o nosso,mais do que isenção de taxas ou isenção fiscal, os empreendedores, principalmente os jovens, e a novas empresas precisam é de contar com o Estado como cliente.Permite aos "novos no mercado" inserir no mercado e fazer um "nome". Parabéns à Câmara Municipal da Praia.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

EMPREENDEDORISMO: Jovens empresários desiludidos com São Vicente

"Os jovens empreendedores em São Vicente mostram-se desiludidos com as fracas condições que a ilha oferece e muitos deles estão divididos entre ficar ou arrumar as malas para a cidade da Praia. A capital é vista como o único local onde os projectos têm pernas para andar, dado que Mindelo não está preparado para ideias novas de empreendedorismo".


Dois factores com grande impacto no desenvolvimento regional e que permite as regiões ganhar competitividade relativamente a outras,são a qualificação dos recursos humanos e o empreendedorismo (criação de empresas).O papel do Estado também conta,mas não explica tudo.É isto que tem acontecido ao Mindelo: investimento público insuficiente,fuga de quadros e baixo taxa de empreendedorismo.Por isso,os jovens empreendedores mindelense têm toda razão nas reclamações que fizeram ao jornal A Nação.Contudo,é preciso dizer que há várias formas de contornar as dificuldades sem ser a deslocalização:através de abertura de sucursais/gabinetes na Praia ou mesmo fazendo acordo de representação com empresas sediadas na Praia.Nada impede uma empresa criada em São Vicente de ter cliente na Praia ou noutras ilhas.Por outro lado,a ADEI ou a AJEC deve oferecer formação aos empreendedores cujo conteúdo vá mais além do que  simples plano de gestão.Um jovem empreendedor não precisa apenas de saber fazer um bom plano negócios: precisa,acima de tudo,saber como funciona o mundo dos negócios.

Baracka Flacka Flames - Head of The State

Religião na responsabilidade

«A caminho dos 93 anos, é um dos últimos sobreviventes daquela plêiade de gigantes políticos europeus que reconstruíram a Europa, souberam lidar com a Guerra Fria, contribuíram, sem tibieza, para o desanuviamento mundial, estabeleceram as bases da União Europeia. Quando a política não era mera Realpolitik, pois ainda se apoiava em saber e se movia por ideais. Foi ministro da Defesa, da Economia e das Finanças, chanceler federal. A sua influência continua hoje forte através do seu semanário DIE ZEIT. Falo de Helmut Schmidt.







(...)
7. Princípio nuclear: o respeito pela dignidade inviolável de cada ser humano. O esquecimento de que o Homem não é para a economia, mas a economia para o Homem fez com que a especulação financeira desembocasse no "capitalismo de rapina". A par da Declaração Universal dos Direitos Humanos é preciso ensinar a Declaração Universal dos Deveres Humanos».


Anselmo Borges

Brincadeirinha de mau gosto

Advinha-se uma nova entrevista onde o JMN vai-se desculpar ou dizer que foi atraiçoado pelo excessos do momento quando fez a analogia entre os intriguistas do partido com a morte de Amílcar Cabral. Isto tem um nome: tentativa de manipulação da consciência. Qualquer um pode fazer o seguinte exercício dedutivo:
            . os intriguistas são desleais e anti-democratas,
. é preciso ter cuidado com os intriguistas no partido porque,
. os intriguistas do PAIGC mataram Amílcar Cabral, logo
. os intriguistas do PAICV podem muito bem querer “matar” José Maria Neves
            . portanto, é preciso escolher os que são leais e respeitosos para com o partido.


O que devem estar a pensar os "intriguistas" que estão no governo de JMN e no grupo parlamentar do PAICV?Será que têm todos «sangue de barata»?

Coisas da campanha eleitoral

1- Jorge Carlos Fonseca: de acordo com as afirmações que fez na ilha Maio,onde critica o presidente em fim de exercício e,portanto,crítica alguém que nem é candidato eleitoral,quando e se for Presidente da República,Jorge Carlos Fonseca vai resolver o problema da Electra bastando para isso falar,dia sim dia não,sobre a empresa e as suas dificuldades...ah,se Cabo Verde precisa de um José Mourinho,esse Mourinho é preciso fora da vida política!Parece que em Cabo Verde ninguém consegue ser alguém fora da política.É na vida civil,académica,desportiva ou empresarial que CV precisa do seu Mourinho.
2- Já é evidente que José Maria Neves fala muito mais vezes do Aristides Lima do que o contrário; aliás, nem o candidato oficial, Manuel Inocêncio Sousa, fala directamente tanto do AL. Oficiosamente, o candidato com maior número de adversário é  ARL: ele tem como adversários o MIS,o JCF,o JM e JMN. As coisas não serão fáceis para ele! Ao contrário do que alguns já disseram, não acho que JMN tenha “perdido o tino” e nem qualidades; parece-me,que JMN está a “sofrer” de excesso de confiança resultante de sucessos no passado recente. Independentemente do resultado final das eleições, mesmo que MIS seja vencedor, esse excesso de confiança nunca é bom, nem para JMN e nem para o seu partido.
3- Janira H.Almada diz que o governo pode "não cumprir todas as promessas feitas se Manuel Inocêncio Sousa não estiver na Presidência da República"!Isto foi para levar a sério ou foi porque era preciso dizer qualquer coisa?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sondagem realizada pela Afrosondagem




Ficha Técnica: "A sondagem foi realizada a 2 e 3 de Julho em todos os círculos eleitorais. O erro amostral é de 3,5% para um intervalo de confiança de 95%. Os resultados são representativos para cada círculo eleitoral. Foram realizadas 4.851 entrevistas cara-a-cara em todos os concelhos do país".

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Grilo Falante

Na ânsia de provar que querem ser mais do que um «Presidente corta-fitas»,os três principais candidatos não se têm poupado para mostrar que vão ser,qualquer um deles,um Presidente promotor do desenvolvimento e crescimento económico,da criação do emprego,da redução da pobreza,da resolução do problema da energia,etc.O Manuel Inocêncio,se calhar devido ao "hábito",uma vez que ainda no inicio deste ano fazia parte do anterior governo, e,como prova da sua boa intenção e capacidade,apresenta as "obras" dele enquanto ministro dos últimos dois governos;o Jorge Carlos Fonseca,embalado,as vezes mais parece o líder de um partido de oposição em campanha;por fim,o Aristides Lima,que não parecer insensível à essas temáticas ou ficar atrás dos concorrentes.
É bom para um Presidente pensar essas problemáticas para,principalmente,transmitir as suas preocupações nas reuniões periódicas que tem com o chefe do governo.Mas não me adianta nada saber o quê JCF, MIS ou ARL pensam sobre esses temas porque não vai ser um deles quem vai resolver ou melhorar a situação económica do país.Simplesmente porque não vão ter funções executivas.O Presidente,a ser cooperante,será o grilo falante do governo.Não há mandatários para dizer isto aos candidatos?

300

Mais facilmente encontraremos uma enchente de milhares de pessoas numa festa de verão ou num comício partidário do que em manifestações ou campanhas cívicas.A maioria daqueles que deveriam dar a cara e incentivar a participação cívica porque,supostamente,estão num nível social mais elevado e,por isso,são aqueles que estão em melhores condições para participar em manifestações de protestos como essa que foi organizada pela Pró-Praia,dizia,a maioria dessas pessoas não dão nem a cara nem a voz.Se aqueles que tem maior nível de escolaridade "não estão para estas coisas",não temos como estranhar o desinteresse geral pelas manifestações cívicas.Talvez seja porque a participação nessas "actividades" não beneficia,não dá "prestígio" e,pelo contrário,"queima".Falta de cultura democrática,no verdadeiro sentido da palavra.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Electra vs. Pró-Praia

A Electra veio dizer que a Pró-Praia deveria "ajudar" a empresa a resolver o problema com as ligações eléctricas clandestinas na cidade da Praia em vez de organizar manifestações. Numa coisa a Electra tem razão: o roubo da electricidade na cidade da Praia é sem dúvida uma das causas da falta de energia e isso só tem prejudicado a empresa. Mas, esse é um problema que tem de ser resolvida pela empresa e não pela associação. À Pró-Praia não cabe fazer o trabalho da Electra ou da polícia e os  «praienses»,aqueles que cumprem a legalidade e que são mais do que prejudicados, não devem pagar por aqueles que estão fora de legalidade. Aqueles que querem essa manifestação, são aqueles que,para além de pagarem a respectiva factura todos os meses por um serviço que não usufrui,ainda têm de fazer contas pelos electrodomésticos e alimentos danificados todos os meses.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Identidade cabo-verdiana

Geralmente quando se debate a questão da identidade nacional na comunicação social,ficamos na maior parte das vezes pela questão de sermos africanos e/ou europeus. Muitas poucas vezes saímos desse registo. Não sei se é pela “imposição” do tempo televisivo mas, sobre a identidade cabo-verdiana, fica sempre muitas coisas por se dizer,como por exemplo:


- o «carácter do povo» e as especificidades sócio-culturais dos cabo-verdianos;
- as representações sociais identitárias;
- as diversidades e a homogeneidade identitária;
- os indicadores da «maneira de ser» dos cabo-verdianos;
- os preconceitos,estereótipos e auto-representação nacional identitária;
- a auto-representação social dos cabo-verdianos face aos outros;
- processos e estratégias identitárias;
- nacionalismo e estratégias de identificação com grupos referenciais;
- os mitos e os conflitos de auto-representações dos grupos identitários regionais;
 - etc.

Discutir Medidas

Sobre a delinquência juvenil, os “thugs”, o “kasu body” e,agora,a proliferação de armas, já se disse tudo mais alguma coisa. Como causas, o desemprego na camada jovem, a pobreza, perda de valores, a globalização, a influência da TV, a imitação do modo de vida “america gangster”, os problemas na socialização (provocada pelo abandono familiar, abandono escolar e convivência/aprendizagem com os repatriados dos EUA, os erros das instituições de integração social ou re-socialização), a inexistência ou políticas desadequadas, etc, etc. As causas são múltiplas e, para piorar, cada vez mais, no nosso caso, está se tornando difícil diferenciar a simples delinquência do crime juvenil. De qualquer maneira, já perdemos tempo demais a discutir as causas desse problema; é tempo de discutirmos as medidas e a sua eficácia. Provavelmente, este é o principal “vício" da nossa classe intelectual: gostamos muito mais de diagnosticar do que prescrever. O que se tem feito? Quais o impacto dessas medidas? Que medidas tiveram êxito e quais não tiveram?
Falando em medidas, cá está uma boa ideia que é perfeitamente adaptável ao nosso país: recém-licenciados podem ser mentores de jovens em risco.

sábado, 16 de julho de 2011

Yes Africa Can: Success Stories from a Dynamic Continent (Sim, a África pode: Histórias de Sucesso de um Continente Dinâmico)

"Cabo Verde fica fora das histórias de sucesso no continente africano".


Apesar das notas positivas no relatórios do Banco Mundial,FMI e outros organismos internacionais,desta vez CV fica de fora.Não que o país não tenha casos de sucesso;simplesmente,outros países africanos estão a ter mais sucesso.A meu ver,   preocupamos muito mais com a democracia,gastamos muito mais tempo com a democracia ou a sua consolidação do que com aquilo que o país realmente precisa:a diversificação da nossa economia.Todos já concluíram que o turismo,a pesca e as obras públicas não chegam para a ambição do cabo-verdiano.O país só terá condições para fazer crescer a economia acima de 10% quando a economia for muito mais diversificada,quando houver vários sectores económicos consolidadas, dinâmicas e independente do Estado.E quando essas empresas,que produzem e que inovam,começarem a internacionalizar e a exportarem os seus produtos,nomeadamente,para a África.

Distributivismos

"No pensamento da direita liberal existe desde há muito uma forte crítica à ideia de justiça distributiva. Isso encontra-se em Hayek, especialmente no livro “A Miragem da Justiça Social”.
A argumentação de Hayek é múltipla: nenhuma entidade pode centralizar os conhecimentos necessários para aplicar a justiça numa sociedade livre e de mercado, o simples facto de tentar aplicá-la conduz a uma aproximação ao totalitarismo, etc.Um outro pensador, Robert Nozick, considera, na obra "Anarquia, Estado e Utopia", que a justiça distributiva é uma forma de roubo, na medida em que equivale a obrigar alguns - os mais favorecidos - a trabalhar para os outros - os mais desfavorecidos, ou a sociedade no seu conjunto. Em suma, tanto para Hayek como para Nozick o distributivismo leva a uma indesejável interferência por parte do Estado no mercado e na liberdade dos indivíduos.É claro que é um pouco chocante que alguém defenda que a justiça distributiva é, em si mesma, uma má ideia. Os nossos políticos e publicistas de direita não se atrevem a dizer isso com a clareza de Hayek ou Nozick. Mas não deixam de reflectir, a um nível bastante menos sofisticado, as ideias desses autores.Por isso criticam o Estado social, afirmam que a promoção da igualdade económica põe em perigo a liberdade, dizem que é importante a igualdade de oportunidades em termos formais, mas não a igualdade de resultados, etc.Mas o mais curioso é o facto de os mesmos que se incomodam com o distributivismo da esquerda não parecem incomodar-se nada com o distributivismo de sinal contrário promovido pela direita agora no poder. Vejamos dois exemplos.A diminuição generalizada da TSU e a sua compensação com o aumento do IVA consistirá, caso seja aplicada, numa distribuição do dinheiro das famílias, incluindo as mais pobres, para os empresários, muitos dos quais aproveitarão para aumentar os lucros imediatos e não para ser mais competitivos no futuro. Outro exemplo: a doação de mão beijada das ‘golden shares', nomeadamente na PT, equivale a distribuir um valor detido pela comunidade - através do Estado - pelos accionistas dessas empresas - que não são certamente o povo desfavorecido.O problema é este: a crítica da direita à distribuição igualitária da esquerda tem a ver com a interferência na espontaneidade social e na liberdade das pessoas. Mas essa interferência aplica-se tanto às distribuições com sentido igualitário como às que têm um sentido anti-igualitário.Ao não verem isto, os nossos comentadores de direita mostram a debilidade do seu pensamento. Como se pode ser contra a interferência distributiva do Estado quando ela beneficia os mais pobres e ser a favor dela quando beneficia os mais ricos?"

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Asneiras

«Noutro dia alguém terá me dito que o sucesso do PAICV é de que, como é um partido composto de muitos sociólogos, ajuda-o na análise da sociedade para poderem aplicar a “politiquice” (compras de consciência, pressão no emprego, nomeações, etc.)».
Carlos Monteiro,vice-presidente da JPD


Esta pequena citação está repleta de originalidades: o "sucesso" do PAICV deve-se aos muitos sociólogos que fazem parte do partido...e o trabalho dos sociólogos é analisar a sociedade para descobrirem a melhor forma para "aplicar politiquice"...não sei o quê um sociólogo do MPD vai responder ao seu colega de partido...será que a diferença entre o MPD e o PAICV está na quantidade de sociólogos militantes em cada um dos partidos? Doravante,os partidos políticos,as empresas e organizações não precisam gastar milhares em consultoria para terem sucesso;basta contratarem inúmeros sociólogos.É desta forma que essa categoria profissional vai ganhar algum reconhecimento/valorização social e,finalmente,vai haver uma diminuição de desemprego no seio da classe.Esta "justificação" explica,em parte,porquê o MPD não consegue vencer o PAICV...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Como Não Avaliar os Candidatos Presidenciais

1- Tem se valorizado muito e até apresentado como uma vantagem comparativa o facto de dois dos candidatos terem formação jurídica e,mais precisamente,terem conhecimento de direito constitucional.Ora,porquê o direito constitucional e não,por ex.,a economia (cujo conhecimento pode ser uma vantagem nestes tempos de crise económica-financeira)?Ninguém é melhor candidato ou vai ser melhor presidente por ter "profundos conhecimento da constituição".Os cabo-verdianos não vão votar no próximo Presidente da República para ser professor de direito constitucional mas sim para ser simplesmente presidente,o que implica muito mais do que ser especialista em direito constitucional.Como é moda dizer agora,há mais vida na acção presidencial além do conhecimento jurídico.

Crise da Dívida Soberana

A sociologia,nomeadamente a sociologia económica e a sociologia das finanças,também vem explicando com ferramentas e teorias sociológicas a actual crise financeira mundial.Aqui vai,por exemplo,4 leituras sobre a actual crise da dívida soberana:


    1) Interdependências: a questão da reputação,a questão das agências de rating (avaliação financeira) e da interdependência financeira entre vários países da Europa (os bancos franceses e alemães possuem a maioria da dívida grega).Leia Bruce Carruthers em Spain, the sovereign debt crisis, and the sociology of finance: some comments.
    2) Ideologia: segundo Jose Luis Alvarez,a crise deixou desorientado o governo espanhol de esquerda e sem ideologia;leia The Sovereignty of the Economic and The Subordination of Politics in Spain:Ideological & Political Causes.
    3) Narrativas: uma vez que toda a gente tem a sua "teoria" David Martin foi perguntar qual é o sentido da crise às pessoas na rua. Pode ser lido aqui: Household Narratives of Spanish Sovereign Debt Crisis.
    4) "Framing": como e através de que estratégia de comunicação é possível persuadir os investidores?Ou,sobre a construção de uma teoria sociológica da avaliação financeira.Daniel Beunza fala de Persuading the markets: Spain, the sovereign crisis and the challenge of financial communication.
   5) Um livro,organizado por Michael Lounsbury,a explicação da actual crise na perspectiva da sociologia económica que se baseia,entre outras,no carácter socialmente produzida e gerida da actual crise: Markets on Trial - The Economic Sociology of the U.S. Financial Crisis.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Por que os economistas acadêmicos deixaram de prever a crise?

"Há várias respostas para essa pergunta. Uma é que os economistas não tinham modelos capazes de levar em conta o comportamento que levou a essa crise. Outra é que eles tiveram a visão obscurecida pela ideologia de que mercados livres e irrestritos não podiam fazer nada errado.Por fim, a resposta que vem ganhando terreno é a de que o sistema subornou os economistas para que silenciassem (...) Eu argumentaria que três fatores explicam nosso fracasso coletivo: especialização, a dificuldade de se fazer previsões e o descolamento entre boa parte da profissão e o mundo real." 

Gosto muito desta definição dos economistas: um economista é aquele que vem explicar hoje porquê aquilo que previu ontem não ocorreu!

Afectos

Hoje alguém disse-me que,pela imagem percepcionada,há pelo menos uma semelhança entre os 4 candidatos presidenciais: os 4 são pouco expressivos em termos de afectividade.Ao contrario do Pedro Pires,José Maria Neves ou Carlos Veiga,os actuais candidatos não são emotivos,pelo menos publicamente.Não que isso seja mau ou um ponto negativo nas respectivas candidaturas;é apenas uma constatação.

O Homem e o Poder

"Um homem com poder é tendencialmente perigoso. Deixa de ver os limites do que é digno e indigno. Escorrega muito facilmente para terrenos pantanosos. Julga que tudo lhe é permitido. Tem à volta uma corte reverencial que o induz a crer que é um deus e que as outras pessoas são instrumentos para os seus desejos. O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. Ele não tem o poder absoluto, mas as noções mais corriqueiras do bem e do mal tendem a desfazer-se".
 Maria Filomena Mónica

Sobre o debate presidencial

Só ontem consegui ver o debate entre os candidatos presidenciais e,sinceramente,não sei como é que qualquer pessoa pode dizer que houve um claro "vencedor".O vencedor foi aquele que falou mais claro e sem titubear?Foi aquele que esteve mais à vontade ou menos hirto?Foi aquele que "encarou os expectadores olhos nos olhos"  em vez daquele que não conseguiu encarar a câmara? O formato não ajudou:em debates desse tipo,principalmente com muitos candidatos,só uma prestação desastrosa dos outros candidatos é que pode ajudar aquele que esteve bem a destacar-se;quando todos estiverem dentro do nível esperado,como foi o caso deste debate,é quase impossível dizer que há um claro vencedor.É quase impossível,logo,há sempre aqueles que conseguem encontrar o "seu" vencedor e,para isso,utilizam vários critérios de avaliação que,na sua grande maioria,são todas subjectivas.O mais comum é escolher aquele de quem mais gostamos como sendo o vencedor do debate;neste caso,escolhemos como vencedor o candidato que apoiamos e,consequentemente,cabe-nos encontrar argumentos para justificar a nossa escolha pré-determinada.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Cidadaniamômetro

A guerra pelo domínio do epíteto "cidadania" só pode ser explicado pela completa partidarização da sociedade.Até parece que,o próximo presidente vai ser aquele que conseguir provar que a sua candidatura tem mais marca da cidadania do que marca partidaria.Daqui a 4 anos um politólogo tem de inventar um modelo teórico e metodológico para medir o grau de cidadania de cada candidatura presidencial.Fica mais fácil prever o vencedor das eleições presidênciais.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

PAICV vs. Aristides Lima

De tanto ouvir e ler,de uma lado,o argumento de que Aristides Lima "não cumpriu as regras do jogo democrático" ou de que ele "faltou à palavra dada quando aceitou solicitar apoio na Comissão Nacional do partido" e de tanto ouvir,do outro lado,de que "Aristides Lima não foi pedir autorização à CN mas sim apoio" já era altura de alguém esclarecer: o regulamento da CN previa ou não a desistência do pré-candidato que não obtivesse o apoio do partido?Antes da votação,ficou claro que aqueles que não conseguissem o apoio deveriam desistir da sua candidatura?
Não é o resultado dessa reunião que está em causa;o que está em causa é a legitimidade do cidadão Aristides Lima candidatar-se ou não (e,já agora,também de David H. Almada).Ora,se no regulamento não é referenciado a desistência daqueles que não conseguirem apoio do partido,porquê a acusação de "falta de palavra" por parte de AL?Afinal,a palavra dada era apenas sujeitar-se à um processo de escolha do candidato a apoiar.A provar que não existia essa regra,os apoiantes do candidato apoiado pelo PAICV perdem a razão e legitimidade de acusar AL de "falta de palavra";podem acusa-lo de traição ao partido,mas não de falta de palavra.É,por isso,incompreensível essa estratégia do partido;mas valia centrar a atenção no candidato que apoia em detrimento da "marcação cerrada" ao AL (aliás,é compreensível se tivermos em conta que o que está em jogo é muito mais do que a "rebeldia" de um militante).Se,pelo contrário,era do conhecimento dos 3 pré-candidatos que quem não conseguisse o apoio tinha de desistir e,mesmo assim,AL avançou com a candidatura,a única saída que lhe restava,a ele AL, era desvincular-se do partido.Afinal,o partido não pode estar sempre e em qualquer circunstâncias acima do cidadão - precisamente, o tema principal que o candidato Aristides Lima vem explorando, a dignidade humana, no fundo, tem a ver com essa dialéctica partido/indivíduo.O que temos visto é que os partidos não deixam espaço para o livro arbítrio,e lidam mal com isso.Mas,infelizmente,isso não é novidade nenhum!

Fraude Democrática

Não podemos tratar como igual ou confundir uma fraude democrática com a fraude eleitoral.Não cumprir uma promessa eleitoral ou faltar à palavra dada não constituem uma fraude eleitoral.O eleitor que "votou enganado" votou no partido ou candidato que ele queria;o partido ou o candidato que foi eleito não cometeu nenhuma ilegalidade e é por isso que o MPD,por exemplo,apesar de acusar o PAICV de fraude eleitoral -por causa da promessa do 13º mês - não avançou com nenhum pedido de impugnação das eleições.Todos os partidos e todos os candidatos "adornam" as suas propostas durante as eleições;é por isso usual a expressão "são todos iguais!".Prometer algo e,depois de eleito,não cumprir;prometer uma medida que se sabe não ser possível implementar,não é fraude eleitoral mas é uma fraude democrática.É cavar a distância entre os eleitores e os políticos e entre o cidadão e os partidos;é descredibilizar a política,os partidos e os políticos.As pessoas,o cidadão comum,muito por culpa dos partidos e dos políticos,confiam cada vez menos e participam cada vez menos na vida democrática.Infelizmente,de fraude democrática os dois maiores partidos do país não podem acusar-se mutuamente.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Exclusividade

Não sei se o deputado Julião Varela ainda é dirigente sindical ou se neste momento é apenas deputado nacional mas,como tenho lido acusações de falta de ética da parte dele,deduzo que ele está na dupla posição de deputado e sindicalista.Acredito que há mais situações,ou profissões,onde é impossível ou mesmo imprudente conciliar com a actividade parlamentar do que o contrário.É complicado ser defensor da causa pública e ter simultâneamente actividade privada ou defender outros interesses.O deputado Julião Varela,por continuar como dirigente sindical, não é menos ético de que os deputados que são simultâneamente advogados,gestores ou que exercem outra profissão qualquer.Tanto da bancada do PAICV com da bancada do MPD.Quer-se evitar qualquer problemas éticos dessa natureza? A medida é simples:exclusividade como deputado!

Administração Publica

O salto da nossa administração pública,em termos de qualidade,eficácia e eficiência dos serviços prestados,depende em boa parte daquilo que poderemos chamar de profissionalismo na administração pública.Podemos designar o profissionalismo na administração público como sendo o espírito profissional na função ou simplesmente como o comprometimento com a administração pública.No caso de Cabo-Verde,sente-se muito a falta desse profissionalismo.em vários níveis da função pública e,quer queiramos quer não,isso afecta negativamente a prestação do serviço.Em boa parte,a culpa dessa falta de comprometimento é dos partidos políticos que,estando no poder,acabam por partidarizar a administração pública.Não poucas vezes,as pessoas não dão o seu máximo numa função quando sabem que estão nomeados temporariamente ou que podem vir a ser substituídas quando mudar o governo.E o pior é que as vezes nem é preciso mudar o partido no governo,basta mudar os ministros para que mude os dirigentes.O que a administração pública em Cabo-Verde também precisa é de trabalhadores e dirigentes que "metem a mão na massa", independentemente do partido no poder.

domingo, 3 de julho de 2011

Livro



Novos Trilhos Culturais:Práticas e Políticas

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Este livro explora possíveis «novos trilhos culturais» num contexto de novos rumos societais. Isto tanto a nível das práticas quanto das políticas. Espera-se que ele possa contribuir para uma reflexão em torno de múltiplos questionamentos que inquietam investigadores e agentes culturais. Por exemplo, quais os mecanismos de promoção ou gestão da diversidade cultural? Qual o lugar das práticas culturais na formação ou sensibilização dos públicos da cultura? Que relações estabelecer entre os públicos e as políticas de cultura? Em que públicos pensamos quando falamos de políticas públicas da cultura? Como evitar que as indústrias culturais se circunscrevam a meras indústrias de entretenimento? Qual o papel da cultura na recuperação do espaço público, nomeadamente nas cidades? Os contributos do livro distribuem-se pelas seguintes partes: «Novas valências da cultura»; «Criação/produção cultural e artística: novos contextos e novas relações»; «A cultura, os media e as novas tecnologias»; «Políticas culturais e desafios actuais»; «Que destaques nos novos trilhos da cultura?»
                                                       











sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ser Justo

Porque será que, para a “taxa de estrada”, recorreu-se ao princípio de «utilizador-pagador» e não se falou no mesmo princípio quanto à taxa de iluminação pública? Na primeira, quem vai pagar são aqueles que fazem uso das estradas com respectivos automóveis, evitando assim a injustiça de pôr pessoas que não tem carro a pagar a taxa; na segunda, todos vão pagar a taxa, independentemente de usufruírem ou não da iluminação pública na sua zona de residência. Uma pessoa que mora no fundo da antiga floresta do Bairro Craveiro Lopes, onde não existe iluminação pública, também vai pagar a taxa.É justo cobrar indiscriminadamente a todos,pouco importando quem tem acesso ou não tem iluminação pública ?