terça-feira, 23 de junho de 2009

Coisas da nossa Identidade

Em caboverde a tolerância e flexibilidade em relação à iniciativa individual é pouco aceitável. Tanto em relação ao êxito como,principalmente em relação ao fracasso. Quando alguém tem êxito na sua iniciativa, qualquer que ela seja, procura-se arranjar factores extra-individual ou supostas ligações “obscuras” para explicar esse êxito; quando uma iniciativa fracassa, essa pessoa é ridicularizada e,principalmente, gozada pela sociedade. Ficamos com ciúmes do sucesso dos outros e vangloriámo-nos com fracasso dos outros. É assim que aqueles cuja religião era diminuir as iniciativas e visibilidade do Abrãao Vicente podem ter ficado contente com o fim do programa 180%; é assim que seja normal que uma grande maioria considere que a riqueza do Scapa é de origem duvidoso e é assim que todos nós achamos que, aqui neste nosso país, o sucesso profissional de alguém, principalmente se for um jovem, só pode ser explicada pela cunha e apadrinhagem político. Alguns dizem que isso é um fenómeno inevitável em todas as sociedades. Acho que talvez seja verdade nos países latinos ou naquelas que sofreram grande influência latina. Ora, como é que se muda isso? Terá a religião dominante numa sociedade influência nisso? E a Educação, aquilo que nos é incutido nas escolas desde criança,como pode mudar isso?Estamos condenados a viver com essa mentalidade?Estamos condenados a ser assim?

6 comentários:

Redy Wilson Lima disse...

Respondendo a tua questão, sinceramente, não sei onde conheceste os religiosos da tal seita que querem apagar Abraão Vicente, que goste-se ou não, tem mérito em muito o que fez e pelo que parece foi injustiçado pela ousadia. Estou de acordo quando dizes que em Cabo Verde tende-se a desvalorizar o sucesso individual ou o empreendorismo de alguns empresários, mas amigo... acreditas mesmo no trabalho árduo do Scapa terra-a-terra na construção da sua riqueza? Se me falares em pessoas como um Serbam, família da Adega, a senhora proprietária dos barcos de pesca da Calabaceira que não recordo o nome, e alguns tantos outros que amealharam o seu rico dinheirinho através do empreendorismo defendido por vós aqui, a conversa era outra.

Nhu Naxu disse...

Redy,acho que não defendi o trabalho árduo do Scapa nem as "virtudes" do Abrãao Vicente,não interessa aqui se a riqueza dele é ou não merecido ou o mérito do Abrãao Vicente.O que disse é que,aqui no país,TEMOS,nós todos,a mania de desvalorizar a iniciativa de quem tem iniciativas.O Abrãao Vicente e o Scapa,serviram aqui unicamente como exemplos(no lugar deles,podia falar no,por ex.,Calú-o dos supermercados,no Gualberto do Rosário,etc).Outro exemplo: veja as reacções,contra e pró,depois da entrega do prémio ao Arménio Vieira...ah,amigo,existe outras formas legais de se enriquecer para além do trabalho terra-a-terra,como dizes:é a especulação!
Vendo que,as 2 pessoas em causa não são a causa deste post,constato que afinal não respondeste as perguntas do post (logo no fim do post).
Abraço

Anónimo disse...

O êxito e o fracasso de um qualquer cidadão em Cv depende sempre de factor X (incógnito), quando menos o esperamos ele aparece surgindo do "nada" aparentemente.
Parece-me que,infelismente, é assim em todo o lado. Só que é mais acentuado nos países onde o Governo/poder Político na situação é o maior empregador (financiador)da nossa sobrevivência.
Não estamos condenados a viver assim. Estariamos condenados a viver assim ad aeternum se não se ouvisse reações e algumas indignadas como neste caso do fim do 180º.

Redy Wilson Lima disse...

Naxu, é um problema de mentalidade, só isso, Uma vez um amigo me disse o mesmo que escreveste no teu post e concordei na íntegra. Olha, não é apenas um caso específico de nós, e referiste isso, mas torna-se evidente que em sociedades mais pequenas isso é mais saliente. Como se muda isso? não sei, mas a inveja é um culpado aqui. Para teres uma ideia, como falaste em Calú, sabias que existe boatos que o homem dos super-mercados tem Djoy por trás? O boato vem de gente que se pode dizer elite... lá está... o Bourdieu que o nosso amigo Al Binda detesta diria que se trata de uma estratégia de distinção, com o objectivo de conservar o status. É como dizes... aqui ser empreendedor de sucesso sem ser conotado com alguma coisa é complicado. Os proprietários de grandes terrenos são acusados de ter um antepassado ladrão ou explorados colonial. Somos assim... há que saber contornar a coisa e chutar para a frente. Merton fala em inovadores, mas aqui estamos a ir para as coisas ilegítimas, contudo só é inovador quem tem iniciativa e é esperto/inteligente. Agora pergunto-te: e devemos valorizar os inovadores nos termos defendidos por Merton? Respondendo já diria que sim, porque teve coragem de seguir em frente e fintar o sistema. O problema aqui está na ética, mas a vida é mesmo complicada.

Lena disse...

A pressa em julgar... há um post no Con(ou sem)tigo que adivinho sobre isso.

Anónimo disse...

Oh Naxu diz ao Redy que abomino o Bourdieu porque ele era um calaceiro. Ele nao era empreendedor nenhum. Passava a vida a escrever "misérias" sobre aqueles que produzem, que criam riquezas e que lhe davam de comer, pois Bourdieu como funcionario recebia o seu salario porque os empreenderores pagavam impostos.

Mas ha uma coisa que escapa (nao é um jogo de palavras com o scapa) ao Redy: ele ainda nao se deu conta que ele, eu, tu, Edy e muitos outros, até o mondronguinho, somos todos empreendedores.

Sim, sim, quem é que nos paga por estarmos aqui a alimentar debates sobre a vida politica em CV e nao so?! Quem é que me paga pelos autores que cito, pelas ideias de leituras que dou, pelas criticas que faço ao Ey ao REDY, obrigando-os a aprimorarem nas suas escritas, como medo que eu lhes malhe em cima?

O que fazemos é empreendorismo de ideias; as ideias valem ouro. Quem vai-nos pagar por este trabalho?

Responde la oh Redy, tu que és sociologo? Relembro-te que disseste que eu nao compreendo nada de sociologia. Mas a verdade é que quem fala com Habermas sou eu e vê la tu Redy, até com o teu amigo Bourdieu. Sim, sim fartei-me de ir ouvir o gajo no Collège de Philosophie, ali mesmo onde me encontrei com Habermas, Dworkin ... enfim calo-me porque ainda vem aí o Edi falar-me em "garganta". E' é, quando é um preto crioulo a falar diz-se que ele tem garganta, mas quando é um branquinho, os patinhos dos crioulos batem palmas em sentido!

Al Binda