quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre a Objectividade Jornalística

Ao contrário do que frequentemente parece pensar-se,a doutrina da objectividade não nasce de uma negação da subjectividade do jornalista,mas precisamente do oposto,da sua 'descoberta' e assunção- ou seja,da constatação de que a comunicação dos factos é plausivamente afectada pelo ponto de vista subjectivo da pessoa que os selecciona,elabora e comunica.Ora,se isso sucede assim relativamente à generalidade das pessoas,então um profissional da comunicação tem obrigação de se rodear de especiais cautelas,de redrobar a atenção,de desenvolver métodos próprios de trabalho,enfim,de se formar e de se treinar,para que aquilo que comunica,e o modo como o comunica,seja o menos possível distorcido ou enviesado pela sua subjectividade.Enfim,a objectividade é mais um quadro de referência,uma atitude de abordagem da realidade,um esforço constante de distanciação,traduzido também num conjunto de práticas,tudo no sentido de minorar e balizar as hipotéticas influências da subjectividade do autor.Daí a importância da defesa de um maior profissionalização dos jornalistas,que passaria pela sua formação inicial e contínua,de modo a prepará-los para o exercício de um ofício que é mais complexo do que se imagina e de modo a poderem resitir melhor aos constrangimentos que lhe são exteriores (os de instrumentalização política,os da pressão económica e os decorrente da sua prória inserção laboral),mas também,por assim dizer,aos contrangimentos interiores (os decorrente da subjectividade própria,da inserção sociocultural,das marcas de origem,das idiossincrasias particulares).Contudo,a defesa cega e mecánica da objectividade acabou por gerar novos motivos de controvérsia acabando por ser utilizada ofensivamente contra os próprios jornalistas:em nome da objectividade assim (mal) entendida,exigia-se-lhes que fossem escrupolosos na reprodução da menagem que lhes era passada para publicar e que se ficassem por aí,pois era esse,e não mais que esse,o seu trabalho.A pertinência desta questão é tanto maior quanto as actividades ligadas à chamada "comunicação persuasiva" (relações pública e marketin) e ao inerente desejo (tanto por parte de instituições oficiais como de entidades privadas) de gerir a informação que sobre elas chega ao espaço público faz com que cada vez menos os jornalistas tenham a possibilidade de contactar directamente a "fontes primárias" e cada vez mais a informação lhes chega "em segunda mão",pela acção dos intermediários que filtram os dados em função dos interesses próprios dos patrões para quem trabalham.Afinal,a multiplicação de profissionais de relações públicas,de gabinetes de assessoria de imprensa e de empresas encarregadas de gerir a comunicação e a imagem das mais diversas instituições é a tradução mais visível da "revolução das fontes".

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